Um violento painel da cidade do México, dos bairros chiques à pobreza da periferia, Amores brutos (Amores perros, México, 2000), em cartaz nacional na sexta-feira 25, é daqueles filmes que conquistam de cara o espectador ou o fazem sair da sala logo nos primeiros minutos. Num vôo rasante pelas ruas da caótica metrópole, a história se inicia com um acidente que reúne por alguns instantes os três protagonistas do filme. Octavio (Gael García Bernal) fugia com seu cão de briga Cofi, depois de esfaquear um adversário numa rinha canina. A modelo Valeria (Goya Toledo) estava indo ao encontro do seu amante, editor de uma revista de fofocas. E El Chivo (Emilio Echevarría), um mendigo que assiste de perto à batida, resolve salvar o cão ferido. Eles vivem em mundos completamente diferentes, sem nenhuma comunicação. Mas o talentoso diretor mexicano Alejandro González Iñárritu entrelaça com extrema habilidade a trajetória destas três figuras, tecendo as tramas anteriores e posteriores ao acidente.

No crescendo alucinante da narrativa se acompanha a violenta paixão de Octavio pela cunhada, maltratada pelo marido, um caixa de supermercado. Sua loucura não é maior que a da vaidosa Valeria, modelo que entra em parafuso devido ao acidente e ao absurdo sumiço de sua cadela. Entre um gesto insano e outro, sobressai a moral superior do mendigo El Chivo, ex-militante de esquerda tornado matador de aluguel, disposto a dar uma lição num empresário que lhe contrata para dar cabo do irmão e sócio. Descontado o sadismo de mostrar cães brigando ou desfalecidos, Iñárritu estréia com o pé direito, revelando com impiedade a miséria afetiva que atravessa de alto a baixo a sociedade mexicana. 

 


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