Nenhum espectador jamais notou, mas José Luiz Datena, 43 anos, âncora do Cidade Alerta – jornalístico exibido ao vivo pela Rede Record, de segunda a sexta-feira, às 17h45, e sábado, às 18h –, já apresentou seu programa suando frio, torturado por uma intensa dor no peito. “Isso acontece sempre que me exalto”, explica Datena, que vem tentando controlar a forma intempestiva com que expressa sua indignação diante da violência cotidiana, assunto em pauta durante boa parte do Cidade Alerta. Manter-se calmo não é apenas uma forma de evitar futuros problemas cardíacos. Desde que, há dez meses, parou de fumar, ele engordou 12 quilos – atualmente pesa 110 mal equilibrados em 1,83m – e sua pressão tem subido bastante. “Toda vez que surjo vociferando no ar, a audiência cai. Tanto que, se há um assunto que me deixa muito entristecido, prefiro nem comentar. Mas não escondo que o País está virando um barril de pólvora.” Mudanças, então, eram necessárias e foram cumpridas à risca.

A receita foi tornar-se mais crítico, não mostrar cadáveres nem ter a polícia como fonte principal. Como resultado, a audiência cresceu e Cidade Alerta ganhou mais credibilidade. Atualmente é o programa de maior ibope da Record (leia quadro). Os bons resultados, no entanto, em muito se devem à boa performance de seu âncora. Na segunda-feira 12, ele permaneceu duas horas narrando o trágico sequestro do ônibus no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Foi uma boa cobertura, apesar da informação apressada de que a refém estava viva. Mas a vida de Datena não se resume às notícias pesadas. Para relaxar a tensão, ele escreve poesias inspiradas nos fatos que acaba de narrar. São versos crus, incisivos, parecidos com letras de rap. Ou seja, nem quando vira poeta esquece dos crimes. “É por isso que todo apresentador do Cidade Alerta tem prazo de validade. Só fico nessa mais um ano.”

Com um salário mensal em torno de R$ 50 mil, Datena está fazendo seu pé-de-meia. Uma boa sequência para quem se celebrizou como repórter esportivo, medindo a distância dos chutes dos jogadores de futebol com uma trena, já que não existia a tecnologia do tira-teima. “Todos me chamavam de Datrena, e me pediam para medir coisas que nem posso falar”, brinca ele, sem perder o jeito de matuto do interior paulista. José Luiz Datena nasceu em Ribeirão Preto, onde fez seu maior amigo, o ex-craque Sócrates, com quem passou madrugadas tomando chope no célebre bar Pinguim. Naquele tempo, segundo ele, mais do que ser campeão de audiência, aquilo é que era vida.