Domingo 11, primavera com temperaturas de verão e desfile na Quinta Avenida. Era o tradicional dia de Porto Rico, onde os imigrantes daquele país fazem uma das maiores festas de Nova York. Mais de um milhão de pessoas estava nas ruas da zona central de Manhattan. Era de se esperar confusão. Mas ninguém imaginava os desdobramentos desta mistura combustível. Momentos depois da parada, quando os carros alegóricos ainda estavam no asfalto e o som da salsa era ouvido em decibéis altíssimos, uma multidão de jovens invadiu a parte sul do Central Park e resolveu promover um festival de camisetas molhadas com as mulheres que passeavam no local. Entre 50 e 100 rapazes passaram a molhar moças e, ato contínuo, despir as vítimas. Algo em torno de 20 moças foram atacadas pela malta. Casais foram separados, mães viram suas filhas serem desnudadas, bolinadas e roubadas sem piedade. Um turista francês teve de tirar sua camiseta em frangalhos para tentar cobrir sua esposa. E o pior, a polícia demorou quase três horas para entrar em ação. Isso a despeito das queixas feitas por gente semidespida e em estado de choque. As imagens de cinegrafistas amadores mostram a multidão atacando todas as mulheres que tiveram a má sorte de estar passeando no parque. Aos gritos de: “Pega! Tira a roupa dela!”, rapazes vestindo camisetas e bandanas estampadas com a bandeira porto-riquenha violentavam as vítimas até cansar. A cidade aponta o dedo acusador para a ineficiência e desdém dos guardas. Afinal, eram quase 19 horas quando um contingente reforçado da polícia começou a intervir. “A polícia não pode estar em todas as partes”, disse o prefeito Rudi Giuliani na entrevista coletiva no dia seguinte. Mas acrescentou que já está em andamento uma investigação rigorosa para apurar responsabilidades. Afinal, 10% da Força estava nas ruas (algo em torno de quatro mil patrulheiros) e alguns deles testemunharam passivamente a selvageria. Será difícil prender todos os que participaram do ataque, mas a cidade pede pelo menos a cabeça dos policiais que não cumpriram seu dever. “A cidade não está fora de controle. Este foi um episódio lamentável, mas esporádico”, alegou o comissário de polícia Howard Safir. Mas a impressão dos nova-iorquinos é diferente. E o tempo quente mal começou. O verão promete transformar a cidade numa panela de pressão. Osmar Freitas Jr. – Nova York