Os ingredientes – chifre de veado, ninho de andorinha, pó de pérola, âmbar – parecem saídos do caldeirão da Madame Min. Mas a origem das exóticas poções nada tem de bruxaria. Empregadas pela medicina oriental há séculos, os produtos começam a ser usados no Brasil em tratamentos de beleza. Médicos e esteticistas garantem que esses componentes da China são eficientes contra a acne, no clareamento de manchas ou no rejuvenescimento da pele. Na clínica Flor de Lótus, no Rio, especializada em cosmetologia chinesa, a acupuntura também é utilizada. “O resultado estético é consequência do equilíbrio interior”, explica a cirurgiã plástica Cláudia Torres, perita no tema.

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Nos tratamentos de beleza baseados na medicina chinesa, a matéria-prima vem das fontes mais inusitadas. É o caso, por exemplo, do raro ninho de andorinha – construído com o auxílio da saliva de uma única espécie de ave, que habita o oceano Índico. Segundo os profissionais, ele estimula o sistema de defesa e acelera a renovação das células, principalmente as da pele. “Usamos para prevenir o envelhecimento. Mas ele também ajuda a evitar resfriados e a tratar problemas de garganta e ouvido”, observa a médica Cláudia.

O pó de pérola é outro produto de mil e uma utilidades, de acordo com Cláudia. Diz uma antiga lenda chinesa que o efeito terapêutico do produto foi descoberto por acaso. Uma princesa apareceu com manchas no rosto às vésperas de seu casamento. Temendo ser rejeitada pelo noivo, pediu socorro aos médicos do reino. Um deles lembrou que, na Terra, a única substância branca e clara como a lua era a pérola. E sugeriu moer algumas para passar no rosto da moça. Deu certo, pelo menos nessa história. O fato é que pesquisas atuais das universidades chinesas indicam que, se ingerido, o pó de pérola age como calmante e até ajuda a ativar a memória. Em tratamentos de beleza, combate a formação dos radicais livres e possui ação antibactericida. “O pó é rico em zinco, cobre e selênio. Tem ótimos resultados no tratamento da acne e das manchas de pele. Ele funciona como um clareador”, diz Cláudia.

O médico Alex Botsaris, autor do livro Segredos orientais da saúde e do rejuvenescimento, é um dos pioneiros no uso do conhecimento chinês em tratamento estético no Brasil. Ele observa que os produtos têm efeitos terapêuticos relatados desde a Antiguidade. A mirra, por exemplo, é uma resina que era conhecida de egípcios e indianos para tratar tumores cutâneos e prevenir o desgaste das juntas. Ainda hoje, no Oriente, é receita para quem tem problemas de artrose (alteração destrutiva das cartilagens). Ela também funciona para fortalecer os cabelos. Já o âmbar, substância produzida pelo cachalote (uma das espécies de baleia), serve para expelir pedras dos rins, clarear a pele e eliminar manchas. O médico lembra que os chineses têm uma milenar tradição em produtos de beleza. O popularíssimo pó-de-arroz, por exemplo, foi levado para a Europa pelos primeiros viajantes a chegarem à China. “O mais importante é observar que, para a medicina oriental, não há beleza sem equilíbrio e saúde interior.”

Diferença – A bailarina Kênia Costa, 35 anos, sabe bem disso. Ela aliou os benefícios do pó de pérola à acupuntura facial e praticamente abandonou os cremes tradicionais. “Notei uma diferença enorme com os tratamentos orientais. O efeito não é só externo, você sente uma melhoria no corpo e na alma.” A estudante Márcia Ferreira do Amaral, 24 anos, também está satisfeita. Ela usa um creme feito com o chifre de veado. “O produto ajuda a repor a camada de colágeno (fibra que dá sustentação à pele) e facilita a recuperação de machucados”, conta.

A esteticista Enoe Pereira, 59 anos, é uma adepta das máscaras de arroz, que ajudam a clarear a pele. Ela usa também as de pétalas de rosa para os clientes e para seu próprio rosto. Enoe trabalha no ramo há 22 anos e, desde 1997, quando descobriu os tratamentos de beleza orientais, dedicou-se a fazer combinações dos produtos chineses. O resultado está na cara: ela já se acostumou a ser abordada na rua por pessoas que querem saber como faz para manter a aparência tão jovem. “Às vezes, os clientes ficam espantados quando digo o que vou usar. Depois, viram fãs.”