Depois de surpreender o mundo promovendo furiosas manifestações contra os males da globalização e as políticas neoliberais que reinaram nos últimos anos, as ONGs, movimentos sociais e sindicatos resolveram encarar um desafio muito mais complexo e ousado: agora tentam provar que além de protestar, são capazes de apresentar suas próprias receitas para combater a desigualdade social cada vez mais gritante na nova ordem mundial. Representantes desta rede de entidades espalhadas por todo o mundo vão anunciar, no sábado 24, em Genebra, a criação do Fórum Social Mundial. Trata-se de um contraponto ao pomposo e tradicional Fórum Econômico Mundial, financiado por grandes multinacionais.

Realizado anualmente, desde 1971, em Davos, uma pequena cidade encravada nos Alpes suíços, este último evento conta, principalmente, com a participação de acadêmicos e governantes dos países identificados com as regras econômicas que ditam os rumos do mundo globalizado. O objetivo dos idealizadores do Fórum Social Mundial é mostrar que a economia deve guiar-se em função das questões sociais e que há alternativas para construir um outro mundo, que dê prioridade ao desenvolvimento humano, sem estar atado às leis do mercado. Se os que se identificam com a ordem estabelecida escolheram uma cidade do Hemisfério Norte para trocar suas experiências, os que contestam o neoliberalismo decidiram optar por um município que se transformou num símbolo da esquerda: Porto Alegre, no Hemisfério Sul. Os governos estadual e municipal, ambos nas mãos do PT, serão os anfitriões do evento.

Integrado por uma fauna variada de entidades, o Fórum Social se reunirá pela primeira vez no ano que vem, exatamente na mesma data em que ocorre a versão do Primeiro Mundo, entre os dias 25 e 30 de janeiro. O Brasil que se prepare. Os mesmos personagens que ganharam fama nas manifestações de Seattle, ofuscando a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) – de Washington – que sediou encontro de ministros de países membros do FMI e do Banco Mundial – e até de Davos, estarão presentes na PUC de Porto Alegre. “Vamos dar um passo além do protesto. É preciso mostrar alternativas e há muitos projetos e idéias interessantes sendo desenvolvidos no mundo. O Fórum Social é uma consequência do movimento internacional de contestação contra a globalização da economia, que gerou injustiça social”, explicou Carlos Tibúrcio, representante da ONG Ação Pela Tributação das Transações Financeiras e Apoio aos Cidadãos (Attac-Brasil) e um dos integrantes do comitê organizador do evento, que se reuniu pela primeira vez em Porto Alegre, no início de maio. A rede brasileira de entidades inclui ainda a Associação Brasileira de Organizações não Governamentais (Abong), a Justiça Global, a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBPJ), a Associação de Empresários pela Cidadania (Cives), o Instituto Brasileiro de Análises Sócio Econômicas (Ibase), o MST, a CUT, entre outros. Um dos líderes internacionais do evento é o diretor do jornal francês Le Monde Diplomatique, Bernard Kassen, que também integra a Attac.