Para os fãs de filmes de guerra, a palavra zepelim lembra um colosso de metal recheado de hidrogênio. Já aprendizes de piloto pensam no clássico dirigível de Santos Dumont, que circundou a Torre Eiffel em 1901. Mas qualquer torcedor de futebol tem uma referência bem mais moderna: a de um gigantesco balão azul e amarelo invadindo o estádio em dia de jogo. Em São Paulo, onde a fabricante de pneus Goodyear mantém um dirigível para transmissões esportivas da Rede Globo, não é díficil encontrar quem perdeu até lance de gol por ter sua atenção desviada pela engenhoca.

Nos Estados Unidos e na Europa, há projetos para voltar a utilizar dirigíveis em transporte de cargas e vôos turísticos – os primeiros protótipos devem entrar em funcionamento até 2002. Nesse mesmo ano, a Goodyear enche o céu com outro dirigível para cobrir a Copa do Japão e da Coréia. A empresa mantém sete deles em países diferentes para cobrir futebol, beisebol, iatismo e golfe. Já colocou um em Sydney, na Austrália, para as Olimpíadas. A Rede Record pensa em comprar um só para ela.

Foto: Ricardo Giraldez

Símbolo de um tempo em que tudo parecia ir mais devagar, o dirigível hoje é instrumento de marketing. Com 39 metros de comprimento, é um outdoor ambulante e pode ser visto num raio de 15 quilômetros. É tão silencioso que as pessoas só percebem sua aproximação quando uma sombra invade o quintal. Então acenam ou vão buscar a câmera fotográfica.

Quem entra na cabine não precisa desligar o celular nem ficar com medo de turbulências. Pode-se voar de janela aberta, sentindo o vento no rosto. Um rasante pelo bairro do Morumbi revela a intimidade de mansões com piscinas e quadras de tênis, além de áreas verdes esquecidas numa São Paulo cheia de prédios. Lá de cima, pessoas e carros parecem formigas e o engarrafamento fica distante. Sente-se paz.

Foto: Ricardo Giraldez

Os dirigíveis atuais são quase iguais aos dos anos 20. Voam a uma altura de 150 a 300 metros e a no máximo 70 km/h. Dois pedais e uma simplória roda, presa ao banco do piloto, servem de comando. O impulso vem de dois motores movidos a gasolina de avião. "O dirigível é como um paquiderme: grande, dócil e sensível", diz Wagner Miggiorin, piloto do dirigível da Goodyear, o único do Brasil. Também é seguro, pois o balão que sustenta a cabine é cheio com gás hélio, leve e inerte. Isso evita tragédias como a do Hindenburg – o Titanic da aviação, que pegou fogo num pouso em Nova Jersey, em 1937, por ser movido a hidrogênio, um gás inflamável.

Foto: Ricardo Giraldez

A Globo utiliza o dirigível gratuitamente em transmissões esportivas e tomadas de trânsito. Em troca, mostra o logotipo da Goodyear, o que compensa os gastos de manutenção (US$ 1 milhão ao ano). Na última Maratona de São Paulo, no domingo 11, sua imagem foi vista por dez milhões de pessoas. Na semana anterior, no jogo Corinthians e Palmeiras, por 40 milhões. O merchandising representou uma economia de R$ 81 mil, preço de cada inserção de 30 segundos no horário nobre.

RADIOGRAFIA
* Reforço dianteiro para ancoragem
* Balonete (controla a pressão interna)
* Cabine ou gôndola (leva o piloto e o câmera ou até três passageiros)
* Cortina catenária e cabos de apoio (sustentam a cabine)
* Lemes e profundores
* Motores American Blimp Corporation, modelo A60+
* Válvulas de regulagem de pressão 8 Válvula de gás hélio

PASSEIO
O piloto checa as condições meteorológicas antes de decolar (acima, à esq.). Em 20 minutos, avista-se a Marginal Pinheiros. Em seguida voa até o Estádio do Morumbi, onde é capaz de ficar até 8 horas parado no ar. No momento do pouso, precisa ser amparado por 12 pessoas e ancorado ao solo