Às vésperas da largada oficial para a campanha presidencial, a presidenta Dilma Rousseff (PT) mantém a liderança das pesquisas, repetindo o enredo dos antecessores que tentaram a reeleição com a máquina pública nas mãos. Mesmo com a vantagem, o cenário político atual, a esta altura da campanha, é mais vantajoso para o PSDB do que em 2010. Significa dizer que a oposição larga mais forte do que há quatro anos. As dificuldades do atual governo para fechar alianças nos Estados abriram espaço para Aécio Neves conseguir o apoio exclusivo de 11 candidatos líderes das pesquisas realizadas até aqui. O tucano ainda vai dividir com Dilma o palanque dos candidatos que estão na dianteira em Mato Grosso e no Maranhão. O apoio recebido pelo candidato do PSDB nos Estados é idêntico ao de Dilma: 13 para cada lado. A diferença é que, na eleição passada, Dilma contava com 20 puxadores de votos de peso nos Estados, ao passo que o PSDB, representado pelo então candidato José Serra, só tinha sete. O tucano ainda precisou aturar o comportamento dúbio de dois candidatos do seu próprio partido: Teotônio Vilela, em Alagoas, e Beto Richa, no Paraná, evitavam as críticas públicas ao governo Lula, beneficiando indiretamente a campanha de Dilma.

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Aécio Neves conta com fortes cabos eleitorais em 13 Estados e a expectativa
do tucano é ampliar a vantagem em São Paulo, Minas Gerais e
Rio de Janeiro, os três maiores colégios de eleitores do País

A situação política de Dilma sofreu reviravoltas desde então. Diante da insatisfação generalizada de aliados do Planalto e da rebelião de políticos nos Estados contrários à aliança nacional dos seus partidos com o PT, a divisão e a consequente migração do apoio político da campanha da petista para a de seus adversários se tornaram inevitáveis. Nas últimas semanas, a ofensiva de Aécio Neves sobre os três principais colégios eleitorais do País e a perda de espaço de Dilma no Nordeste balançaram a autoconfiança da campanha do PT. Apesar da liderança da presidenta nas pesquisas, o cenário aponta para a disputa em segundo turno, hipótese que atemoriza os petistas. “O segundo turno pode ser uma nova eleição”, avaliam.

Em sua ofensiva política, Aécio Neves conseguiu dividir o apoio do PMDB fluminense, até então totalmente favorável a Dilma, passou a liderar as pesquisas em Minas Gerais e deve abrir vantagem em São Paulo. No Estado campeão em número de eleitores, a campanha de Alexandre Padilha (PT) foi esvaziada com a decisão de última hora de Paulo Maluf (PP) de apoiar Paulo Skaf (PMDB), que também recebeu o reforço do PSD de Gilberto Kassab. Padilha, agora, corre o sério risco de ser “cristianizado”, o que em política significa ser abandonado, durante a eleição, pelos próprios correligionários interessados em migrar para um projeto de poder mais viável – no caso o personificado por Skaf. Em 2010, Dilma venceu no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e perdeu para Serra em São Paulo por uma pequena margem de votos, quadro que dificilmente se repetirá. A expectativa do PSDB é ampliar a vantagem em São Paulo com a escolha de Aloysio Nunes Ferreira para ocupar a vaga de vice na chapa de Aécio, anunciada na última semana. “Nós temos uma tradição ganhadora em São Paulo e queremos manter. Eu tive mais de 11 milhões de votos, fui o senador mais votado em São Paulo e a minha vitória mostra a força do PSDB e de seus aliados em São Paulo”, afirmou Aloysio à ISTOÉ.

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Para o cientista político José Augusto Guilhon Albuquerque, especialista em eleições, o cenário indica um enfraquecimento das alianças petistas. Segundo ele, o papel de lideranças regionais em canalizar os apoios municipais e estaduais é estratégico, sobretudo num segundo turno. “É um governo com dificuldades em fazer alianças e isso influencia o apoio dos governadores. O melhor exemplo do peso do governador nas eleições presidenciais é Minas Gerais. No Estado, os tucanos mostram grande capacidade de controlar os votos municipais”, afirmou.

Colaborou Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br)