Esqueçam o terno Armani que não desalinha nem com tiroteio. O novo herói da espionagem em Hollywood usa calça jeans, camiseta com escritos desbotados e vive com a pouca barba que tem por fazer. Edward Snowden, o ex-agente que denunciou o mau uso dos sistemas de vigilância internacional dos EUA, é a nova aposta de Hollywood. O jovem americano, pivô de um dos maiores golpes contra o governo de Barack Obama, tornou-se alvo de uma disputa rara entre diretores e produtores da grande indústria cinematográfica. Snowden ainda não tem um lugar para chamar de lar, mas vai ocupar as telas das nações que lhe negaram abrigo por revelar ao mundo documentos secretos da instituição mais sigilosa de segurança dos Estados Unidos, que hoje o considera um de seus grandes inimigos.

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E-HERÓI
Edward Snowden abriu mão da carreira promissora na
NSA e do trânsito livre pelo mundo para denunciar as
práticas invasivas da vigilância oficial dos EUA

Barbara Broccoli, poderosa produtora dos filmes de James Bond, foi a escolhida entre muitos interessados em filmar o livro-reportagem de Glenn Greenwald, jornalista do “The Guardian”, que acaba ser lançado no Brasil: “Sem Lugar para se Esconder”. A obra narra seu encontro com Snowden, o processo de denúncia das práticas de espionagem eletrônica e sua repercussão imediata no cenário internacional. Greenwald disse à ISTOÉ que privilegiou as propostas que valorizaram o trabalho jornalístico desenvolvido no livro, mas que a escolha final pela produtora levou em conta sua força na divulgação e distribuição do longa. “Trata-se de um herói para os direitos humanos no planeta, por isso queremos que o mundo todo conheça Edward Snowden.”

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CYBERGUERRA
Oliver Stone ( à dir.) começou a trabalhar em sua superprodução sobre
o ex-agente. O diretor comprou os direitos do livro que Anatoly Kucherena
(à esq.), advogado russo de Snowden, nem terminou de escrever. Além
de “Time of the Octopus” (título provisório da história de Kucherena),
Stone arrematou “The Snowden Files”, de Luke Harding

Advogado especialista em direito constitucional, o autor do livro foi, ao lado da cinegrafista Laura Poitras, um dos primeiros contatos do cyberagente depois de sua decisão em se tornar delator. Ele conta que quando chegou ao primeiro encontro, em Hong Kong, ficou desconcertado com o aspecto jovem, a forma displicente de se vestir e “os óculos de nerd chique” da fonte que prometera, em chats criptografados, desvendar o serviço sujo da Agência de Segurança Nacional americana. Mas os primeiros documentos que viu eram auto-explicativos e mostravam que, graças a uma brecha constitucional de 1978, os Estados Unidos tinham respaldo legal para vigiar qualquer cidadão de qualquer país, bastando que seus agentes – e Snowden era um deles – julgassem a pessoa suspeita. “As coisas que vi começaram a me perturbar de verdade. Eu podia assistir em tempo real a imagens, geradas por drones, de pessoas que talvez eles fossem matar”, contou Snowden ao jornalista em diálogos reproduzidos no livro, que será transformado em roteiro nos próximos meses. “Atuarei apenas como um consultor”, diz Greenwald.

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SEM ESCONDERIJO
Barbara Broccoli (direita) foi quem conseguiu os direitos para filmar o
livro do jornalista americano Glenn Greenwald (esquerda). “Escolhi
Barbara porque ela é uma das figuras mais poderosas de Hollywood,
o que significa que a história de Snowden poderá ser conhecida pelo
maior número de países possível. Ele é um herói que merece esse
reconhecimento”, diz o autor de “Sem Lugar para se Esconder”

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O relato do jornalista não é o único que vai para as telas. Anatoly Kucherena, advogado que ajudou o ex-agente a ter direito de deixar o aeroporto de Moscou, onde viveu por 40 dias à procura de asilo político internacional, vendeu os direitos de um texto sobre a passagem para o diretor Oliver Stone. O livro não está terminado, mas Stone decidiu começar as filmagens ainda este ano. O cineasta ainda não definiu quem vai costurar o roteiro do seu próximo filme, mas tratou de adquirir também os direitos de “The Snowden Files”, história do ex-agente narrada por outro jornalista do “The Guardian”, Luke Harding. Criador de “Platoon” e “Nascido em 4 de Julho”, o diretor, um dos grandes autores de filmes de guerra da história do cinema, dificilmente vai se ater aos fatos e resistir a criar um épico de guerra, uma guerra cibernética com herói escondido atrás de óculos de nerd chique.

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Fotos: Vincent Yu/AP Photo; Jasin Boland; Divulgação


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