O jornalista Pedro Bial e o produtor Leleco Barbosa se encontraram numa sexta-feira, no final do ano passado. Depois de três horas decidiram que a homenagem há muito devida ao pai de Leleco, José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha, só poderia ser um musical. “Velho Guerreiro – O Musical”, escrito por Bial, vai ser dirigido por Andrucha Waddington e tem estreia prevista para o segundo semestre. É mais um forte candidato da nova safra de produções nacionais do gênero que colocaram o Brasil no pódio de terceiro maior mercado de musicais do planeta.

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A explosão de importados da Broadway nos anos 2000 formou plateia – foram mais de cinco milhões de pessoas – movimentando cifras volumosas. A mobilização de atores, cantores, músicos, cenógrafos e tradutores dos textos norte-americanos criou uma mão de obra especializada. Daí para o início das produções nacionais foi o tempo de os autores descobrirem os enredos férteis que são as biografias dos artistas brasileiros. As produtoras logo encamparam o gênero, que compensa o preço alto estendendo as temporadas por grandes períodos, o que resolve também a grade das grandes casas de shows e estimula a criação de novos espaços de apresentação.

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FOI PARA O TRONO
Chacrinha apresentou Roberto Carlos para as gravadoras de discos.
Na época, o Rei só tinha suas canções ouvidas pelo rádio

A balança comercial dos musicais nunca esteve tão perto de se equilibrar. O Brasil só perde para a Broadway, de Nova York, e o West End, de Londres. Além das casas de apresentação, os produtores americanos passaram a se interessar pelo filão made in Brazil. Stephen Byrd e Alia Jones-Harvey, sócios na Front Row Productions, compraram os direitos para levar à Broadway “Orfeu da Conceição”, peça de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. A produção, com estreia prevista para início de 2015, será apresentada com o nome de “Black Orpheus – A New Musical”. A adaptação do roteiro, que une a peça de Vinicius de Moraes ao filme dirigido por Marcel Camus, de 1959, ficou por conta da dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho, que já coleciona mais de 30 musicais no currículo.

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Outro espetáculo com data marcada para embarcar para o exterior é “Rock in Rio – O Musical”, que conta a história do festival de música. Apresentada no Brasil, a produção que segue para a Espanha custou R$ 12 milhões. “Rei Leão”, a mais cara entre as adaptações da Broadway, foi orçado em R$ 40 milhões. Os direitos de “Rock in Rio” foram vendidos para a produtora espanhola Wonderland Group, que pretende apresentar o musical ainda este ano. “Outras produções devem seguir essa tendêndia (de exportação). Estamos empenhados em mostrar para todo o mundo, por meio de musicais de qualidade, a cultura e os mitos de nosso país”, diz Luiz Calainho, sócio da Aventura Entretenimento, responsável pela montagem de “Velho Guerreiro – O Musical”.

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Este ano, as duas maiores casas produtoras de musicais, a Aventura Entretenimento e a T4F Entretenimento, levaram para as plateias 5,5 milhões de pessoas. A Aventura vai transformar o Cine Palácio, no Rio de Janeiro, em uma casa especializada no gênero, apta a receber 1.200 pessoas, com o que há de mais moderno em tecnologia para musicais. A inauguração deve acontecer em 2016. E o espetáculo a incrementar a programação do turista que virá para a Olimpíada não poderia ser outro: “Garota de Ipanema, a História da Bossa Nova”, com direção de Dennis Carvalho. Em São Paulo, para receber “A Madrinha Embriagada”, de Miguel Falabella, o Teatro do Sesi-SP passou por uma grande reforma e ampliou seu aparato técnico. E mais: inaugurou um Teatro Escola para formar profissionais na área.

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Foto: Adir Mera/Ag. o Globo, Divulgação