Steve Jobs, o homem que, ao lado de Steve Wozniak, fundou a Apple em uma garagem californiana, em 1976, não era adepto do meio-termo nem acreditava muito em diplomacia. Para ele, pessoas eram gênios ou idiotas e produtos eram uma porcaria ou maravilhosos. Isso rendeu a Jobs – morto em 2011 – adoradores e detratores em proporções similares. Com o tempo, esse traço de personalidade tornou-se parte tão importante dentro da estrutura da empresa que marca e produtos ficaram vinculados à sua imagem.

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LIDERANÇA
O presidente da Apple, Tim Cook, sobre a imagem de seu antecessor,
Steve Jobs: ele deixa a criação para quem sabe

Hoje, quase três anos depois da morte de seu guru, a gigante da tecnologia, cujo valor de mercado se aproxima dos US$ 500 bilhões, finalmente conseguiu seguir em frente. Isso ocorreu de forma gradual, sem grande alarde, mas os efeitos são expressivos. No ano fiscal de 2010, as vendas da Apple somavam US$ 65 bilhões. Em 2013, já haviam pulado para US$ 171 bilhões. Para manter o ritmo, a empresa agora aposta em um novo tipo de gestão, muito menos centralizadora, liderada por Tim Cook, o sucessor de Jobs. Também prepara uma onda de lançamentos (confira quadro), alguns dos quais seriam impossíveis com Jobs no comando, e realiza parcerias incomuns, como a compra da Beats, distribuidora de música e fabricante de equipamentos de áudio do rapper americano Dr. Dre.

Jobs interferia diretamente em cada design, centralizava decisões e, frequentemente, ordenava mudanças drásticas quando os produtos já estavam em fase avançada de desenvolvimento. Cook é o oposto. Quando analisa uma ideia, ele faz tudo “muito calmamente”, como explicou Jonathan Ive, chefe de design da Apple, ao jornal americano The New York Times. Enquanto Jobs almoçava quase todos os dias com Ive, incluindo alguns sábados e domingos, Cook se reúne com ele apenas três vezes por semana. Na maioria das vezes, o atual presidente não opina sobre os detalhes de cada lançamento. Desinteressado? Não, de acordo com funcionários da Apple. “Essa análise demorada mostra que ele sabe que o produto é muito importante”, diz Ive.

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PRIMÓRDIOS
Jobs, o sonhador, e Wozniak, o engenheiro, fundaram a
Apple em uma garagem na Califórnia, em 1976

De fato, para a Apple, nada é mais importante do que o produto. É ele que cria uma legião de “applemaníacos” ao redor do mundo. “Inovação é o que fez a Apple se diferenciar dos seus concorrentes e é isso que o consumidor espera em todos os lançamentos”, disse à ISTOÉ Laura Garcia Miloski, diretora de estratégia da consultoria Interbrand no Brasil. Só que, nesse aspecto, a companhia vinha deixando a desejar. As últimas versões do iPhone, que responde por cerca de 60% das vendas da empresa, chegaram a virar piada por causa da pequena evolução apresentada em relação ao aparelho antecessor. Mas tudo deve mudar com a chegada do iPhone 6, que terá telas maiores – uma antiga demanda dos consumidores – e, segundo os rumores mais recentes, display com vidro “inquebrável”. Jobs, que refutava a ideia de um smartphone grandalhão, também não ficaria muito feliz com a versão “barata” do computador iMac apresentada nesta semana. Com preço de US$ 1.099 nos Estados Unidos, ele tem processador mais lento e menor capacidade de armazenamento. Para o fundador da Apple, baratear um produto em detrimento de suas funções era algo impensável, ainda que isso prejudicasse as vendas.

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Já o “fator encantamento”, um dos grandes responsáveis pelo sucesso da companhia, deve ficar por conta do lançamento do chamado iWatch, o longamente aguardado relógio inteligente da companhia. Muitos analistas acreditam que, junto com o iPhone 6, ele será responsável por bater recordes de vendas. A Apple também aposta nisso. Recentemente, a companhia dividiu suas ações (7 por 1), tornando-as mais acessíveis ao investidor comum. É a preparação para as novidades dos próximos meses, cruciais para o futuro da companhia.

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Fotos: Divulgação; Jeff Chiu/AP Photo, Kimberly White/REUTERS


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