As últimas pesquisas eleitorais animaram o candidato do PMDB ao governo de São Paulo, Paulo Skaf, a apresentar-se ao eleitor como uma “nova via”. Ele acredita que a polarização entre PT e PSDB, que marcou as campanhas paulistas nos últimos 20 anos, está esgotada. Isso já faz Skaf receber sem grande entusiasmo o apoio da presidenta Dilma Rousseff que afirmou ter dois palanques em São Paulo, o dele e o do petista Alexandre Padilha. Em entrevista à ISTOÉ, Skaf diz que manterá independência.

abre.jpg

ISTOÉ – A presidenta Dilma Rousseff afirmou que tem dois candidatos em São Paulo. O sr. tem quantos candidatos para presidente?
Paulo Skaf –
A Presidência da República é uma instituição que merece todo meu respeito e eu só tenho a agradecer essa referência que a presidenta faz em relação à minha candidatura. Mas, nitidamente, nós temos em São Paulo uma candidatura do PMDB, uma do PT, uma do PSDB e outras mais, que são adversárias. No Estado do São Paulo, o PMDB considera tanto o PSDB como o PT como adversários e nosso objetivo é ter total independência para conquistar o governo.

ISTOÉ – O sr. se surpreendeu com os resultados das pesquisas que o colocam em segundo lugar, com cerca de 20% das intenções de voto?
Skaf –
De um ano para cá temos quatro pesquisas. Na primeira, tivemos 16%; na segunda, 19%; na terceira, 19%; e agora, 21%. Isso não me surpreende e mostra um crescimento sólido, num momento em que a campanha ainda não começou.

ISTOÉ – Por que o sr. acha que pode continuar crescendo e não seus adversários? 
Skaf –
Temos uma taxa de conhecimento que beira apenas os 40%. Isso significa que 60% dos eleitores ainda não conhecem nossa candidatura. Não souberam que existe um novo caminho para São Paulo, que há 20 anos é governado pelo mesmo partido, pelas mesmas pessoas e com os mesmos problemas. Também há 20 anos a eleição é polarizada entre o PSDB e o PT. Agora há uma opção. O eleitor poderá votar por opção e não por eliminação.

ISTOÉ – Mas o sr. acredita que vai tirar mais votos do PSDB ou do PT?
Skaf –
O que percebo em todos os eleitores é que há um cansaço, uma fadiga, tanto em relação ao PT como ao PSDB.

ISTOÉ – Isso não tem acontecido na eleição nacional. As pesquisas mostram que a candidatura de Eduardo Campos, do PSB, que em tese romperia a polarização de petistas e tucanos, não tem conseguido decolar.
Skaf – Acho que está um pouco cedo ainda para se avaliar essa questão nacional. Em São Paulo talvez as coisas tenham se precipitado e o PMDB passou a ser a segunda via e não a terceira via. É possível que esse movimento também venha a ocorrer na disputa federal. Precisamos esperar mais um pouco para analisar isso.

ISTOÉ – Nas últimas eleições, a disputa em São Paulo foi atropelada pela pauta da eleição presidencial. Por que o sr. acredita que este ano será diferente?
Skaf –
Está muito claro que o que inferniza as pessoas, o que tem feito a sociedade ficar mais angustiada, são as questões estaduais e não as federais. Segurança pública, educação, saúde, transporte público, falta de água: todos esses são temas de responsabilidade do governador e não do presidente ou dos prefeitos.

ISTOÉ – O sr. acha então que os paulistas estão mais irritados com políticas do PSDB do que com políticas nacionais do PT?
Skaf –
Acho que o que mais incomoda não são as políticas. É a forma de gestão. Há uma grande revolta com relação à segurança pública e isso é de responsabilidade do Estado. O mesmo vale para saúde, metrô, etc. Claro que temas como a política econômica, o fraco crescimento do PIB e o controle da inflação são importantes e devem ser debatidos. Porém, o que descontenta a população em seu dia a dia são as questões estaduais e a forma como o PSDB vem gerindo essas áreas ao longo de duas décadas.

SKAF-02-IE-2326.jpg
"O que inferniza as pessoas, o que tem feito a sociedade ficar mais
angustiada, são as questões estaduais e não as federais"

ISTOÉ – O seu discurso não está mais oposicionista do que o do PT?
Skaf –
Não se trata de ser oposição ou não. Não quero fazer política para ser oposição ou situação, para agradar ou desagradar. Entrei na política para propor coisas. Nos últimos anos, como presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), tivemos oportunidades concretas, sem fazer promessas, de enfrentar grandes desafios, como a redução das contas de luz, a redução de impostos para produtos da cesta básica, a eliminação do imposto dos cheques e a modernização dos portos brasileiros. E barrar o aumento abusivo do IPTU na capital. Em todos esses casos mostramos resultados concretos. Além do trabalho revolucionário na área da educação feito por intermédio do Sesi, Senai. Hoje o que as pessoas querem é gestão, é ver resultados e não promessas.

ISTOÉ – Quando o sr. foi, digamos, picado pela política?
Skaf –
Estudei no Colégio Santo Américo e lá tinha o clube de classe. Em todos os anos fui o presidente. Depois no Exército, no CPOR, tinha o grêmio e fui o presidente. Desde cedo tive espírito público. Tenho prazer em servir às pessoas, buscar resultados. Depois fui para o sindicato da indústria têxtil, me elegi presidente e fui reeleito. Fui para a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e depois para a Fiesp, Ciesp… Então, na verdade gosto da política desde muito cedo, só que nunca havia participado da política partidária. Mas percebi que, numa democracia, para fazer as coisas mudarem e para poder propor suas ideias é preciso participar da política partidária. Não existe outro caminho.

ISTOÉ – Algum fato foi determinante para levá-lo à política institucional?
Skaf –
Sim. Primeiro decidi que não adiantava ficar de fora reclamando. Era preciso entrar no jogo para poder transformar as coisas. Também me entusiasmou muito o ex-vice-presidente José Alencar, com quem me dava muito bem. Ele me dizia: “Paulo, quando você tem um tanque com veneno, a solução é colocar água limpa para diluir o veneno.” Essa frase me encorajou a entrar na política.

Foto: Felipe Gabriel/Ag. Istoé, Rogério Cassimiro/Folha Imagem