Desembarcou no Supremo Tribunal Federal, na semana passada, o relatório da PF sobre o desvio de verbas públicas no BNDES – e é a partir daí que a vida do deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, pode azedar. Há no papelório da polícia a transcrição da gravação de uma conversa entre o principal assessor de Paulinho, João Pedro de Moura, e uma secretária da Força Sindical de prenome Valéria. A conversa se deu no dia 22 de fevereiro, às 11h20, e está na página 495 do relatório (ofício nº 5096/DRE/SR/SP). João Pedro e Valéria falam sobre irregularidades nos contratos da Força Sindical com o Instituto Paulista de Ensino e Cultura (Ipec) e o Ministério do Trabalho. Valéria diz a João Pedro que o Ministério está dando “bomba” no contrato acertado entre as partes e que a Força teria de devolver R$ 59 milhões aos cofres públicos.

Valéria – Cheguei ontem do Ministério. Aquela comissão especial está reprovando todos os contratos que a gente fez com o Ipec e pedindo a devolução do dinheiro…
João Pedro – Meu Deus do céu.
Valéria – Temos 15 dias para responder. A devolução está em torno de R$ 59 milhões.
João Pedro – Tem que marcar uma reunião com o pessoal do Tosto.Valéria – (O Ministério) reprovou porque o Ipec não apresentou nota. Contratamos o Ipec com dispensa de licitação.

SEGUNDO A PF, O DEPUTADO RECEBEU PROPINA DE R$ 325 MIL EM
TROCA DE INTERMEDIAÇÃO NA LIBERAÇÃO DE VERBAS DO BANCO

Esse diálogo e mais dezenas de documentos apreendidos pela PF na Operação Santa Tereza reforçam a suspeita de irregularidades cometidas pelo deputado e seu grupo de amigos envolvendo ONGs e o governo federal. A suspeita da PF ganhou força depois que os investigadores apreenderam no apartamento de João Pedro o comprovante de um depósito bancário no valor de R$ 37,5 mil em favor da ONG Meu Guri Centro de Atendimento Biopsicossocial, presidida por Elza de Fátima Costa Pereira, mulher de Paulinho e tesoureira do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Para a polícia, o dinheiro do depósito, feito no dia 1º de abril, pode ter sido desviado do BNDES e “lavado” em um núcleo de ONGs.

Paulinho atravessou a semana negando o envolvimento com a quadrilha que desviava dinheiro do BNDES, mas não conseguiu se livrar dos golpes que vem sofrendo depois da revelação do relatório. Segundo a PF, o deputado recebeu propina de R$ 325 mil em troca de intermediação na liberação de verbas do banco. Na terça-feira 6, ele subiu à tribuna da Câmara dizendo-se vítima da “elitizinha que não gosta de trabalhador”. “Muita gente aqui disse que ia me pegar na esquina. Agora sei porque estou apanhando”, disse ele.

Na semana que vem, Paulinho terá de se explicar à Corregedoria da Câmara sobre o suposto recebimento de propina, para tentar evitar, assim, uma investigação pela Comissão de Ética por quebra de decoro parlamentar – e a possível cassação de seu mandato. A blindagem de Paulinho nos últimos dias foi capitaneada pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e alguns parlamentares do PDT, mas não teve fôlego suficiente para livrá-lo das cordas. “Foi uma defesa muito fraquinha”, disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). “Essa tese de conspiração da elite não me sensibiliza. Ele precisa provar que não tem nada a ver com toda aquela gente que foi presa”, emendou o senador Jefferson Peres, do mesmo partido de Paulinho. Na quarta-feira 14 o corregedor da Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), instalará uma comissão de sindicância com cinco parlamentares para investigar a denúncia e promete chamar para depor todas as pessoas suspeitas de envolvimento com o “esquema BNDES”. Inocêncio considerou gravíssimo o fato de Paulinho ter recebido um telefonema do advogado paulista Ricardo Tosto, sócio de um dos mais conceituados escritórios do País, assim que o tributarista deixou a prisão. Na ligação, Paulinho promete a Tosto “mexer os pauzinhos” no Congresso para convocar o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o então superintendente da PF em São Paulo, Jaber Saadi, a se explicarem sobre as prisões promovidas pela PF. “Não se pode usar o mandato para dar aperto em ninguém”, diz Inocêncio