Geraldo Alckmin: "Política de cúpula é coisa do passado"

Depois de ser referendado pelo Diretório Municipal como o précandidato do PSDB à prefeitura paulistana, na noite da segunda-feira 5, o ex-governador Geraldo Alckmin não contém a euforia. Está tão animado que chega a desprezar o fato de que em São Paulo, berço do PSDB, está nascendo uma nova espécie de tucanos: os kassabistas, lideranças ligadas ao governador José Serra que procuram impedir que o partido tenha um candidato próprio na disputa municipal e defendem uma aliança com o atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM), já projetando a sucessão presidencial de 2010. "Não existe racha no PSDB. O que há é apenas uma pequena lasca", disse um bem-humorado Alckmin, na tarde da quinta-feira 8. "Vamos transformar a convenção no final de junho em um ato de consolidação da unidade partidária", completou. Na convenção, alckmistas e kassabistas irão disputar os votos de 1.228 delegados. Em política, os quase 40 dias que faltam para a convenção é prazo suficiente para muita coisa mudar, mas o que assegura o ânimo do ex-governador são os primeiros resultados concretos de uma briga interna, desnudados na noite da segunda- feira 5. A pré-candidatura de Alckmin foi aprovada por unanimidade na Executiva Municipal, por 47 dos 51 representantes zonais e por 63 dos 71 membros do Diretório Municipal. Esses números indicam que, enquanto os kassabistas buscam acertos de cúpula, os alckmistas trabalham as bases do partido. "Essa política de cúpula é atrasada. Política moderna se faz ouvindo a sociedade e os partidos precisam ouvir a militância", afirma o ex-governador.

Para ganhar votos na convenção, o grupo de Alckmin tem feito visitas constantes aos 96 distritos de São Paulo, insiste na tecla de que o PSDB jamais deixou de apresentar candidatura própria no Estado, apresenta pesquisas mostrando que sua candidatura é mais forte do que a de Kassab e relembra que na capital venceu Lula na última disputa presidencial nos dois turnos, o que, segundo avalia o ex-governador, o coloca como o candidato capaz de vencer a petista Marta Suplicy. Nos bastidores, o ex-governador trabalha com cautela. No PSDB, busca evitar que a disputa interna provoque fissuras irrecuperáveis e evita ataques diretos a José Serra, embora não deixe de emitir recados venenosos (leia entrevista acima). Fora do partido, sobrou pouco terreno para Alckmin depois que o PMDB de Orestes Quércia se acertou com Kassab. O tucano aposta agora em uma aliança com o PTB e tem mantido contatos semanais com o deputado estadual Campos Machado, líder petebista em São Paulo. Há 15 dias, ofereceu ao deputado a garantia de que o PTB indicaria o candidato a vice-prefeito.

Para a campanha, a estratégia já está bem avançada. Alckmin finaliza ainda nesta semana os entendimentos para a contratação de um marqueteiro e definiu como tema principal o caótico trânsito paulistano. Ele sabe que não terá como tecer críticas à gestão de Kassab. Afinal, ela é a continuidade da gestão do tucano Serra, mas Alckmin se apresentará ao eleitor dizendo que é possível "fazer mais e fazer melhor". Em suas gavetas, ele armazena uma série de números mostrando que, quando governador, assegurou recursos para as principais obras agora inauguradas pela dupla Serra e Kassab. Resta saber se nas próximas semanas as máquinas administrativas do Estado e da prefeitura não terão força suficiente para emplumar os kassabistas.

"SÃO PAULO NÃO PODE SER OBJETO DE TROCA POLÍTICA"

Na quinta-feira 8, o ex-governador Geraldo Alckmin recebeu ISTOÉ em seu escritório. Durante 40 minutos, ele mostrou entusiasmo com a candidatura a prefeito e mandou alguns recados àqueles que não aceitam que o PSDB tenha o seu próprio candidato.

ISTOÉ – Como entrar numa disputa com um partido dividido?
Alckmin –
Não há racha no PSDB. Há uma pequena lasca e acredito que pode nem haver disputa na convenção. Mas, se tiver, não tem importância.

ISTOÉ – O sr. acredita mesmo que o governador José Serra possa abrir mão de apoiar o prefeito Gilberto Kassab?
Alckmin –
Ele já esteve comigo e disse com todas as letras: ‘Olha, se você for o candidato do PSDB, não tem maiores discussões.’ Aliás, foi isso o que fiz quando Serra foi candidato a prefeito de São Paulo. Meu incondicional apoio a ele em 2004 foi decisivo. Ajudei a quebrar um tabu de mais de 40 anos, porque desde 1961 o governador de São Paulo não elegia o prefeito da capital.

ISTOÉ – Mas o Serra tem um projeto pessoal, presidencial, e para isso a aliança com o DEM é fundamental.
Alckmin –
O projeto do Serra só se fortalecerá com o fortalecimento do PSDB. Serei eleito prefeito de São Paulo. Em 2010 não serei candidato a nada e vou trabalhar para unir o partido. Além disso, não podemos definir 2008 por 2010.

ISTOÉ – Os kassabistas dizem que o sr. precisa abrir espaços, que o sr. quer disputar todas as eleições possíveis.
Alckmin –
É o PSDB que legitimamente quer ter sua candidatura. Sempre teve, desde a sua fundação. O Serra foi três vezes candidato a prefeito de São Paulo.

ROMUALDO RIBEIRO
"Meu incondicional apoio foi decisivo para o Serra ter sido eleito prefeito em 2004"

ISTOÉ – O acordo com o DEM não é uma necessidade da cúpula tucana?
Alckmin –
A política moderna ouve a sociedade e os partidos precisam ouvir a militância. Acordo de cúpula é coisa atrasada, superada. No caso de São Paulo, a cidade não pode ser objeto de troca política.

ISTOÉ – Não são tradição no PSDB as decisões de cúpula?
Alckmin –
O PSDB, depois de 20 anos, está tendo uma aproximação com as bases, com seus militantes. O partido precisa se modernizar, estabelecer democracia interna, decisões internas mais abertas.

ISTOÉ – O sr. não teme que a força das máquinas administrativas do Estado e do município possam influir na convenção tucana?
Alckmin –
Não acredito que máquinas de governo venham a ser utilizadas para prejudicar a candidatura do PSDB. O PSDB sempre teve candidato em São Paulo, é o partido mais forte e tem candidato competitivo.