Esta é a segunda Copa do Mundo de Frederico Chaves Guedes, o Fred, 30 anos.
Na primeira, em 2006, ele ficou eclipsado na reserva dos astros Adriano e Ronaldo Fenômeno. Mesmo assim, marcou um gol, na primeira fase, no jogo contra a Austrália. “Lembro que nem sabia como comemorar, em que direção ir, de tanta emoção”, diz. Oito anos depois, é dele a camisa 9, entregue ao maior responsável por fazer gols dentro da equipe. Ciente da responsabilidade, às portas de um Mundial dentro de casa, no país que reverencia o futebol como nenhum outro, o atacante não se intimida.]

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Fred afirma estar se preparando desde 2011 para a Copa no Brasil.
"Não quis correr o risco de ficar fora dessa. É o sonho de uma vida inteira"

“Me preparei a vida inteira para este momento e estou no auge da carreira”, afirmou um dos líderes do time de Luiz Felipe Scolari pouco antes de entrar na concentração da Seleção.

ISTOÉ – Esta é sua segunda Copa do Mundo. Na primeira, em 2006, você foi reserva. Agora, é titular incontestável de Luiz Felipe Scolari. As sensações são muito diferentes?
Fred –
Em 2006, eu estava num grande momento no Lyon (FRA), mas era um coadjuvante em meio a um monte de craques consagrados, como Ronaldo Fenômeno, Adriano, Kaká e Ronaldinho Gaúcho. Eu era um menino de 22 anos e sabia que era muito difícil ter uma oportunidade naquele grupo. Hoje eu sou um cara mais centrado, focado e sei muito bem o peso da responsabilidade que carrego. Eu me preparei a vida inteira para esse momento.

ISTOÉ – Você concorda com Felipão, quando ele diz que a única opção é conquistar a taça?
Fred –
Somos os favoritos e precisamos assumir essa condição. Ninguém tem chances maiores que a gente. Jogar com o apoio da torcida nos garante uma força extra, a adaptação ao clima também é algo bem favorável. O título que conquistamos no ano passado resgatou toda a confiança da torcida, a química que estabelecemos é um indicador excelente. Na verdade, tudo está a nosso favor, basta confirmarmos isso ao longo da competição.

“No quesito vontade, nenhuma seleção vai nos
superar. O ambiente do grupo atual é perfeito!”

ISTOÉ – O técnico Luiz Felipe Scolari afirma que você é um dos líderes da equipe. Onde sua liderança se manifesta?
Fred –
Apesar de ter um jeito alegre e brincalhão, que contribui para deixar o grupo unido, com astral elevado, nos momentos de dificuldade e decisão, eu me transformo e tento passar confiança a todo o grupo, para que o objetivo seja alcançado. Poder dividir isso com Thiago Silva, David Luiz, Júlio César, Dani Alves torna a missão menos pesada e mais prazerosa.

ISTOÉ – O País está em ebulição, às portas do Mundial, e as manifestações que agitaram a Copa das Confederações estarão presentes nesta Copa. Você é a favor delas?
Fred –
Sou totalmente favorável às manifestações, desde que sejam pacíficas. Eu vou estar sempre ao lado do povo se a luta for legítima. Assim como as pessoas que vão para a rua protestar, eu e todo o grupo que irá representar o Brasil nesta Copa somos de origem humilde e por muito tempo sofremos com as desigualdades sociais. Durante a Copa das Confederações, eu senti orgulho de ser brasileiro e ver o povo exigindo os seus direitos. Me deu vontade de estar na rua junto com eles, exercendo o direito e o dever de cidadão.

ISTOÉ – Menos da metade das obras prometidas para o Mundial ficaram prontas. O que você pensa disso?
Fred –
A parte mais decepcionante da Copa é saber que muito do nosso dinheiro não vem sendo empregado corretamente e que perdemos uma grande chance de que o legado deste torneio fosse de fato algo espetacular para o nosso povo. Essas obras viriam para melhorar a qualidade de vida dos brasileiros, e isso sim seria o grande benefício de sediar um Mundial. Claro que a parte esportiva pesa, mas fora dos gramados poderia vir um título que fosse tão importante ou mais que o hexa.

“Procuro estar sempre cheirosinho e gosto de
andar bem arrumado. Os amigos pegam no meu pé
por causa dos cremes, principalmente para o cabelo”

ISTOÉ – Dizem que essa é a Copa das Copas. E para você, qual foi a Copa inesquecível?
Fred –
A mais marcante para mim foi a de 2002. Eu estava nos juniores do América e já vivia de forma mais real esse sonho de ser jogador e disputar um mundial. O Ronaldo fez uma Copa perfeita, sendo campeão e artilheiro, e foi uma redenção que nem roteirista de cinema poderia fazer melhor. Até por ele ser o meu grande ídolo no futebol, é a Copa mais inesquecível até agora.

ISTOÉ – Messi ou Cristiano Ronaldo?
Fred –
Eu vou escolher o Messi, porque ele ainda é jovem, já tem quatro títulos de melhor do mundo e é praticamente imparável quando recebe a bola com um, dois e às vezes até mais marcadores. Não fez uma grande temporada, mas vai querer mostrar tudo na Copa, e precisamos ter muito cuidado. Seria muito bom jogar com os dois juntos. São bons nomes para o Fluminense trazer depois da Copa (risos).

ISTOÉ – Você esteve em duas seleções brasileiras, a de 2006 e a de 2014. O que havia de diferente e de comum nelas?
Fred –
O grupo da Copa de 2006 era mais experiente, de jogadores já campeões e eleitos melhores do mundo. Este ano é diferente, tirando a comissão técnica, todos os atletas querem sentir o gostinho de ser campeão do mundo pela primeira vez. Por isso, penso que, no quesito vontade, nenhuma seleção vai nos superar. O ambiente do grupo atual é perfeito!

ISTOÉ – Você não foi convocado em 2010, apesar de estar brilhando no Fluminense. Nessa época, você chegou a declarar que, solteiro e recém-chegado ao Brasil depois de uma temporada na França, descuidou de sua vida pessoal, o que refletiu na vida profissional. Teria feito alguma coisa diferente?
Fred –
Não digo que me arrependo, porque tudo que acontece na vida é aprendizado. Mas, com a cabeça que tenho hoje, seria mais focado e teria me exposto menos, porque eu poderia estar no grupo da última Copa.

ISTOÉ – Foi construído para você um perfil de jogador que gosta da boemia. Isso condiz com a realidade?
Fred –
Há cinco anos voltei para o Brasil, após quatro temporadas na Europa. Quando cheguei ao Fluminense, eu tinha apenas 25 anos, e voltar para o meu país foi muito bom. Posso ter me exposto um pouco nos quatro primeiros meses, mas, nos quatro últimos anos, não houve um único desvio de conduta. Inclusive, as pessoas que me cercam reclamam que estou quieto demais.

“A parte mais decepcionante da Copa é saber
que muito do nosso dinheiro não vem
sendo empregado corretamente”

ISTOÉ – Você é considerado um galã. A que atribui esse sucesso com as mulheres?
Fred –
Acho que, por ser tímido, mais quieto, jeito mineirinho mesmo, acabo chamando a atenção. Apesar disso, eu sempre fui muito atencioso com todos e isso pode ter contribuído para eu conquistar o carinho das fãs.

ISTOÉ – Você é vaidoso, se cuida? Como?
Fred –
Não muito, mas sou um cara que procura estar sempre cheirosinho e gosto de andar bem arrumado. Os amigos pegam no meu pé por causa dos cremes, principalmente para o cabelo, mas é necessário cuidar bem da aparência. Seria preocupante se eu demorasse mais que as mulheres para me arrumar. Como isso nunca aconteceu, acredito que estou no caminho certo (risos).

ISTOÉ – Você tem o sonho de jogar em algum time, daqui ou do Exterior, qual?
Fred –
Eu tinha o sonho de jogar na Europa e já realizei, foi algo que permitiu uma independência financeira para mim e para a minha família. Tinha o sonho de jogar em grandes clubes e também já consegui. Mas admito que o futebol espanhol me encanta. Se pintasse uma oportunidade, ficaria balançado.

ISTOÉ – Quantos gols prometeu para sua filha Geovanna nesta Copa?
Fred –
Ela me pediu mil gols, mas acho que vai ser um pouco complicado alcançar a meta estipulada por ela (risos). Se eu fizer um por jogo, como aconteceu na Copa das Confederações, acho que será um bom número. Com certeza ela e todos os brasileiros vão ficar bem felizes.

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Foto: Fabio Seixo/Ag. O Globo