Cristiano Ronaldo, o português confiante da fotografia ao lado, é o jogador mais midiático da história do futebol e, talvez, um dos dez maiores craques de todos os tempos. O brasileiro Neymar, o sujeito de olhar altivo que se vê na página a seguir, é um talento extraordinário, o melhor dos gramados brasileiros em pelo menos uma década. Messi, o argentino do semblante carrancudo revelado pelo retrato desta reportagem, é quase tão fantástico quanto o incomparável Maradona, e até mais goleador do que ele. Os três estão no auge da forma. Os três são espetaculares. Os três são arrasadores. Suas seleções são, na maioria das vezes, imbatíveis, tão brilhantes quanto a Espanha de um Iniesta ou a Holanda de um Robben. Algumas vão se enfrentar em embates que logo serão imortalizados. Todos os superlativos acima expressam o que deve ser, dentro do campo, a Copa no Brasil – o melhor torneio de futebol em muito tempo. “O Mundial tem tudo para ser inesquecível”, diz Eduardo Gonçalves de Andrade, o ex-jogador Tostão, hoje em dia o crítico de futebol mais lúcido do País. “A maioria das seleções tem pelo menos cinco jogadores de alto nível, o que não acontece há muitos anos.”

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CRISTIANO RONALDO
Poucas vezes um craque chegou a um Mundial
em condições tão favoráveis para brilhar

Os erros cometidos na preparação da festa tiveram um efeito devastador: para milhões de brasileiros e para a opinião pública internacional, a Copa será um desastre. É impossível cravar o que será do País durante o torneio. Protestos violentos? Greves? Trânsito caótico? Pane nos aeroportos? Falhas nos sistemas de comunicação? Tudo isso pode realmente acontecer, o que só deixariam expostas nossas mais profundas feridas. Mas há uma outra Copa, tão verdadeira quanto aquela condenada pelos pessimistas, muito mais digna de se ver e capaz de abrandar a imagem negativa que as deficiências extracampo possam revelar. Uma Copa, afinal, que tem a sorte de ser realizada em um momento luminoso, com craques e seleções dignos do País do futebol, estádios com padrão de conforto desconhecido pelos brasileiros e torcedores que festejam o esporte como nenhum outro é capaz.

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MESSI
Em 2010, aos 22 anos, ele não era a referência da Argentina na Copa da África.
Agora é o capitão da seleção e uma estrela global

Na semana passada, ISTOÉ entrevistou personagens marcantes do futebol brasileiro. Todos reconhecem as falhas lamentáveis da organização, mas avaliam de forma muito parecida o que está por vir. Nos gramados, a Copa de 2014 tem, para dizer o mínimo, potencial para brilhar mais do que a maioria das outras. “Veremos grandes partidas”, prevê Tostão. Em depoimento exclusivo à ISTOÉ, o Rei Pelé falou o seguinte: “Teremos uma atmosfera eletrizante, com a alma e o coração do Brasil”. Ronaldo Fenômeno, que faz parte do Comitê Organizador Local (COL), faz uma projeção otimista. “Podemos esperar um show de futebol”, disse à repórter Helena Borges o maior artilheiro da história das Copas, e que agora parece viver uma crise de identidade. Ronaldo criticou o atraso das obras, mas elogia o campeonato em si. “Todos os campeões mundiais virão ao Brasil, o nível será muito alto.” Craque da seleção nos anos 90, Djalminha declarou que “a competição será marcada pelo grande futebol e pela alegria do povo brasileiro”.

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Estariam todos eles enganados? A força da marca brasileira no universo do futebol é tão avassaladora que assombra até estrangeiros. Na quinta-feira 29, o meia Iniesta, da Espanha, o homem que fez o gol do título mundial de 2010, disse ao portal Uol que “nada pode ser mais bonito do que disputar uma Copa no país do futebol”. Técnico da seleção russa, o italiano Fábio Capello foi ainda mais direto. “Participar de uma Copa no Brasil é realizar um sonho lindo”, disse em uma entrevista recente. “Por mais que digam que o País tem um milhão de problemas, qualquer um sabe, no fundo do coração, que será uma Copa diferente de todas as outras.” Luís Suarez, o temível atacante uruguaio, fez praticamente uma declaração de amor. “Cada jogador que entrar em campo no Brasil deve agradecer aos céus por essa oportunidade”, disse o craque. “Os brasileiros amam futebol, ganharam mais títulos que todos os outros, seus torcedores são fanáticos. Não dá para ficar indiferente a isso.”

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Basta analisar os protagonistas do torneio para perceber que será, sim, uma competição especial. Poucas vezes um jogador chegou a um Mundial em condições tão favoráveis quanto Cristiano Ronaldo. Na atual temporada, ele quebrou recordes de gols na Europa, faturou o título continental e deixou para trás um gigante – o argentino Messi. Se havia dúvidas quanto ao seu talento excepcional, elas agora desapareceram. Ronaldo, sem dúvida, amadureceu. Ok, ele ainda é uma estrela obcecada pelos holofotes, mas parece ter, enfim, a consciência do que significa ser o melhor do mundo. Messi também é um jogador muito diferente daquele que chegou à Copa da África do Sul. Em 2010, aos 22 anos, pouco havia brilhado com a camisa de sua seleção. Os argentinos desconfiavam dele e, talvez por isso, nem sequer deram ao craque a faixa de capitão. Agora, Messi é a referência da Argentina – se tornou o capitão, afinal –, um atleta experiente e encorpado, que parece ter se preservado durante o ano inteiro para chegar ao Brasil com potencial máximo. “Tenho grande esperança de que o Messi faça uma Copa espetacular, no nível altíssimo que é capaz”, afirma Tostão.

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O caso brasileiro é ainda mais interessante. Em 2010, na África do Sul, Kaká era o principal jogador da Seleção. Mas ele chegou ao Mundial em péssimas condições físicas, com um problema crônico no joelho que o obrigou a fazer uma cirurgia assim que o Mundial terminou. Resultado: o ex-melhor do mundo não jogou nada. Mas esse não era o único problema. A zaga tinha dois titulares em declínio (Lúcio e Juan), o meio-campo era protegido por um jogador instável (Felipe Melo) e havia uma quantidade excessiva de atletas apenas medianos. Em 2014, uma geração muito mais qualificada apareceu. É verdade que craque mesmo o Brasil só tem um – Neymar –, mas todos os outros titulares são atletas, senão fantásticos, pelo menos excelentes. Os zagueiros David Luiz e Thiago Silva formam, segundo muitos especialistas, a linha de proteção mais forte do mundo, o meia Oscar tem talento suficiente para decidir uma partida (como já fez na Copa das Confederações) e o ataque funciona em sintonia perfeita, com um centroavante oportunista (Fred), um gênio imprevisível (Neymar) e um touro de estupenda força física (Hulk).

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BALOTELLI E ROBBEN
O primeiro é esperança de gols da Itália e o segundo é a
alma da Holanda: poucas Copas contaram com tantos craques

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A Copa brasileira também contou com certa dose de sorte. Logo na primeira fase, quando tradicionalmente há poucos clássicos entre gigantes, o destinou colocou frente a frente potências mundiais. No dia 13 de junho, 24 horas depois da abertura da festa, jogam em Salvador Espanha e Holanda, partida que consiste na reedição da final da Copa de 2014. No dia 14, estarão em campo, em Manaus, Inglaterra e Itália, uma das maiorias rivalidades do planeta. A lista é grande. No dia 16, também em Salvador, Portugal de Cristiano Ronaldo desafia a Alemanha de Reus, enquanto no dia 24 o Uruguai de Suarez pega a Itália de Balotelli., em Natal. “Essas partidas farão o mundo parar diante da tevê”, disse Ronaldo Fenômeno à ISTOÉ.

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SCHWEINSTEIGER
O principal jogador da Alemanha, uma das favoritas ao título,
atuará ao lado de jovens talentos, como Reus e Gotze

 

Além de trazer ao País craques consagrados, o torneio de 2014 contará com um número raro de revelações que podem brilhar agora ou no futuro próximo. “Aposto em jogadores menos badalados, como Aguero, da Argentina, e Hazard, da Bélgica”, diz Tostão. Atacante da Copa de 1994 e hoje membro do COL, Bebeto também cita Hazard como uma das surpresas, mas vai além. “Acredito muito no Reus, da Alemanha”, diz. Ronaldo Fenômeno coloca suas fichas em outro alemão. “O Müller é um dos grandes nomes de uma grande seleção”, diz. “Ele foi artilheiro de uma Copa do Mundo aos 21 anos, sem ser centroavante. Isso não é para qualquer um.”


A festa não será só dos jogadores. Um dos principais protagonistas do maior evento esportivo do planeta será o torcedor brasileiro. Em nenhum outro País esse esporte está tão entranhado na alma de uma nação quanto no Brasil, em nenhum lugar o futebol teve um papel tão importante na construção do próprio caráter nacional. Não há cidadão que não esteja planejando uma forma de comemorar as vitórias da Seleção, seja com a família em casa, nas ruas ou nos estádios. Também é inegável que o brasileiro gosta de festa – o Carnaval está aí para provar isso. Tão certa quanto um golaço de Neymar é a alegria generalizada que está por vir. “Apesar de todos os protestos, o Brasil não vai perder sua capacidade de festejar e receber bem os outros”, diz o antropólogo Roberto da Matta. “Temos esse referencial, e isso não deve mudar.”

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O torcedor que for aos estádios terá um motivo adicional para celebrar. As arenas construídas para a Copa representam uma transformação na forma de se ver futebol no País. Conforto e visibilidade máxima são atributos que os frequentadores dos estádios nacionais pouco conhecem. É verdade que eles custaram muito mais do que deveriam, é verdade que poderiam ter sido oito em vez de doze, é verdade que as denúncias de corrupção ainda não foram investigadas com rigor. O que não se pode negar, apesar das críticas justas, é que os novos estádios são, afinal, excelentes. Se você é uma dessas pessoas que amam esse esporte e se está entre as que esperam com ansiedade grandes exibições nos gramados, a Copa do Mundo chegou. E será inesquecível.

Com reportagem de Helena Borges e Mariana Brugger
Fotos: Divulgação, Imago Stock/Keystone Brasil; Top Foto/Keystone Brasil; Fabrice Coffrini/AFP, Montagem sobre foto de Frederic Jean, Pixathlon/Spa/newscom/Glow Images; Catherine Ivill/ama/Corbis; Glyn Kirk/AFP/Nike/Divulgação


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