Fiel aos princípios éticos abandonados por setores do PT depois da ascensão ao poder, o ex-governador do Rio Grande do Sul e petista histórico Olívio Dutra bateu de frente com integrantes do próprio partido ao defender a prisão dos mensaleiros, pedir que o ex-deputado José Genoino não assumisse o cargo na Câmara enquanto réu no mensalão e criticar o enriquecimento súbito de Antonio Palocci quando este era ministro da Casa Civil. Olívio não ficou só na retórica. Nos últimos tempos, ele se tornou mais do que uma voz dissonante no PT.

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UM OUTRO PT
Sem carro próprio, Olívio Dutra anda de bicicleta em Porto Alegre e
mora num apartamento de 60 m2, quitado do antigo BNH

Diferenciou-se também nas práticas. Enquanto muitos enriqueceram e passaram a desfrutar uma vida de luxos, Olívio, cuja aposentadoria soma R$ 18 mil mensais, continuou a morar no velho apartamento de 60 m2, localizado de frente para uma avenida barulhenta na zona norte de Porto Alegre. Sem carro próprio, também não se constrangeu em usar diariamente um ônibus para se locomover. Num momento de total descrédito da população com a classe política em geral, as atitudes de Olívio o credenciaram fortemente para um retorno à política. 

Nas últimas semanas, campanhas disseminadas nas redes sociais pela volta do ex-governador à vida pública levaram o PT a incluir seu nome no rol de possíveis candidatos ao Senado. Na quarta-feira 28, a candidatura foi chancelada pelo PT estadual em uma reunião marcada por elogios ao ex-governador do Rio Grande do Sul. O partido reconheceu que Olívio é provavelmente hoje o único capaz de puxar votos para garantir a reeleição de Tarso Genro (PT) ao governo do Estado, na briga contra a sua principal adversária, a atual senadora Ana Amélia Lemos (PP), e impedir que a vaga ao Senado seja conquistada pelo opositor Lasier Martins (PDT) ou pelo socialista Beto Albuquerque (PSB).

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O anúncio foi feito na sede do PTB, que apoia a reeleição de Genro e prescindiu da vaga de vice na chapa para facilitar o acordo, já que o arranjo inicial previa que o PCdoB indicaria a ex-senadora Emília Fernandes ao Senado. Agora os petebistas vão trabalhar para indicar o suplente de Olívio.

“Tendo em vista a decisão de Olívio Dutra concorrer ao Senado, reafirmo o que disse diretamente ao ex-governador, em reunião na sede do PT há um mês, que sendo ele candidato a senador abriria mão da minha candidatura, em nome da unidade”, declinou Emília. É o regresso do ético.

Foto: Ramiro Furquim/Sul21.com.br