Na quarta-feira 4, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto promete parar a capital paulista. A ideia do MTST é promover a “Quarta Vermelha”, no que seria a maior mobilização popular da cidade desde junho do ano passado, quando milhares de paulistanos ocuparam as ruas para exigir mudanças no País. A expectativa dos organizadores é reunir 40 mil pessoas no ato intitulado “Copa do Povo”. À frente do movimento, que já levou 20 mil pessoas a ocupar as principais avenidas de São Paulo há duas semanas, está Guilherme Boulos. Considerado pelos inimigos como um “coxinha extremista” ou um “radical chique”, Guilherme, ao contrário do que falam seus detratores, desde jovem demonstra não ter apego aos bens materiais e ao conforto. Filho de um dos mais conceituados infectologistas do País, Marcos Boulos, professor da USP, Guilherme deixou a vida de classe média alta para trás para abraçar a causa dos sem-teto. Aos 19 anos foi viver num acampamento na periferia de São Paulo. Aos amigos, ele se explica: “As pessoas precisam ser coerentes, viver aquilo que elas acreditam. Senão, não é uma verdade. O que eu procuro fazer é ser coerente com o que eu acredito. Eu vivo com o que é suficiente para eu viver bem”, afirma. Hoje, aos 31, formado em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e em psicanálise, ele mora com a mulher, que conheceu no movimento, e as duas filhas no bairro do Campo Limpo, na periferia de São Paulo, e as meninas frequentam uma creche pública.

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SEM CONFORTO
Aos 19 anos, Boulos largou a boa vida para morar num acampamento.
A partir daí, abraçou a causa dos sem-teto

Apesar da voz rouca, que lembra a do ex-presidente Lula, Boulos impressiona pelo discurso eloquente e enfático. De acordo com integrantes dos sem-teto, porém, suas principais virtudes são a habilidade para negociar e a capacidade de ter os números da reforma urbana na ponta da língua. “O déficit habitacional no País cresceu 10% entre 2011 e 2012 nas nove metrópoles mapeadas pelo IBGE. Hoje, são 1,8 milhões sem residências adequadas nessas regiões”, dispara ele. A crise urbana no Brasil, segundo Boulos, decorre do aumento desenfreado dos aluguéis, que empurra cada vez mais os moradores das cidades para longe dos grandes centros.

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“O Minha Casa Minha Vida, carro -chefe da política habitacional do PT, enxuga gelo. O governo tem de criar uma lei do inquilinato. Nos últimos seis anos, o valor médio do aluguel subiu 97% na capital paulista e 144% na cidade do Rio de Janeiro.” Guilherme odeia falar sobre sua vida privada, diz não ser filiado a nenhum partido, mas ele transita bem entre o PSTU, o PSOL e setores do PT. Sua ligação com a esquerda é inegável. Ex-militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), até hoje Boulos tem predileção pelos livros do filósofo alemão Karl Marx (1818 – 1883). Apesar de não acreditar na luta armada como forma de chegar ao poder, ele se define como um militante socialista. Reservado, quando o assunto é eleição, Boulos, até hoje, nunca abriu seu voto para presidente. Porém, em recente entrevista, teceu críticas a Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB), da oposição, e não costuma negar sua interlocução com a presidenta Dilma Rousseff. 

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