PAULOLIMA-IE-2322.jpg
Yin e Yang, claro e escuro, figuras complementares e interdependentes.
Roberto Carlos aplaude e é aplaudido pelo mestre Eduardo Lages

O dono do bigode grosso que aparece na foto com o monarca da música popular brasileira atende pelo nome de Eduardo Lages. Há nada menos que 36 anos, o niteroiense nascido em 1947 é o maestro que comanda a orquestra, os arranjos, os shows e até mesmo recebe os convidados de Roberto Carlos em eventos e festas. Com 4 anos de idade, o pequeno Eduardo foi levado pelo pai, um médico e pianista diletante, a tomar aulas de piano. Não parou mais. Aos 12 anos já era considerado um músico excelente, mas abandonou a música erudita e partiu para a popular, em grande medida por causa de um acidente que lhe tolheu alguns movimentos da mão esquerda. Nem por isso deixou de dominar, além das teclas, instrumentos como bateria, violão e contrabaixo. Ainda garoto chegou a integrar um movimento musical do qual faziam parte figuras destacadas como Aldir Blanc, Gonzaguinha e Ivan Lins.]

Por volta de 1970, entrou para os quadros da Rede Globo, primeiro pela porta do programa “Som Livre Exportação”, depois, já atuando como maestro em diferentes produções. “Fantástico”, “Globo de Ouro” e outros programas eram seu dia a dia. Em 1977 conheceu o ainda jovem Roberto. No ano seguinte, recebeu o convite para comandar o time de músicos que RC queria ter em seus shows. O cantor sempre achou fundamental se apresentar com um time grande de profissionais no palco (de dezoito a até cerca de quarenta músicos) e a presença de um maestro em quem confiasse lhe parecia obrigatória. Lages conseguiu conciliar o trabalho na Globo com os shows e discos de Roberto por inacreditáveis 18 anos, até ter que fazer a difícil escolha. Não titubeou e optou pelo homem das roupas azuis.

De lá para cá, são mais de 2,5 mil shows pelo mundo contabilizados, centenas de arranjos (apenas para a música “Detalhes” ele afirma ter feito mais de dez), discos, especiais da Globo, eventos e tudo que se possa imaginar, incluindo o memorável tributo a Tom Jobim em que Roberto e Caetano emocionaram muita gente.

As fãs mais empolgadas do filho notório de Cachoeiro do Itapemirim adoram pensar que, quando termina suas canções e é ovacionado, RC abaixa sua cabeça cuidadosamente penteada e balbucia preces aos deuses da música e dos palcos ou agradece à saudosa Lady Laura. Fontes muito bem informadas, porém, garantem que na verdade Roberto está se comunicando com seu maestro e fiel escudeiro Lages, através de um microponto eletrônico acomodado diretamente no ouvido privilegiado de Lages.

A imagem que você vê ao lado integra a recém-lançada “fotobiografia autorizada” de Roberto,criada e elaborada por Carlos Ribeiro e Pedro Sirotsky da editora Toriba. Num trabalho sofisticadíssimo de edição e de produção gráfica que se arrastou por mais de quatro anos, milhares de imagens foram triadas pessoalmente pelo cantor para escolher só as mais importantes que compõem os três mil exemplares numerados da obra. Trata-se de um “collector’s book” medindo nada menos que 50 cm x 50 cm com 400 páginas impressas na Itália e que é oferecido por R$ 4,5 mil a colecionadores e amantes do trabalho de Roberto, que, vale lembrar, continua se posicionando e atuando  firmemente contra as “biografias não autorizadas”.

Perguntado sobre  se eventualmente lhe passa pela cabeça deixar Roberto e seguir seu próprio caminho, Eduardo responde rápido: “Quero ficar sempre com ele.”

Talvez o fato de já ter gravado sete CDs próprios e um DVD, ou os arranjos, composições e trabalhos produzidos com e  para um naipe tão amplo de artistas que vai de Nelson Gonçalves a Chitãozinho e Xororó e Paulo Sergio Valle ao grupo KLB ajude, mas a verdade é que Eduardo Lages parece ser daquelas figuras especiais e raras  que não precisam estar no centro do palco para brilhar.

A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente