O notas sobre a morte de João Filgueiras Lima começam apresentando o arquiteto como parceiro de Oscar Niemeyer. Menos visível, a arquitetura de Lelé, com sua sustentabilidade pioneira e vocação social, foi muito maior para o Brasil que a de Niemeyer, com sues monumentos de concreto que se tornaram um símbolo da modernidade nacional, de fato, com a ajuda de Filgueiras.

Lelé precisa ser lembrado por sua própria produção. Criador dos edifícios da Rede Sarah de Hospitais, revolucionou a recuperação de doenças motoras no País, fazendo da rede pública modelo mundial de atendimento e proposta ambiental. Seus edifícios, distribuídos por seis cidades brasileiras, dispensam o uso de ar-condicionado. Os equipamentos hospitalares, também desenhados por Lelé, aumentam mobilidade e o conforto de doentes e tratadores. A Rede Sarah é linda. Nem parece hospital. E tudo isso nos anos 1980, vinte anos antes dos selos de sustentabilidade em edificações valerem alguma coisa por aqui. 

O arquiteto fez escolas, creches, centros de estudos, oficinas de desenvolvimento de tecnologia. Foi pioneiro na pré-fabricação, criando laboratórios de peças que tornavam as obras mais seguras, mais ecológicas, mais funcionais. Garantia que postos de trabalho não fossem extintos com o desenvolvimento das tecnologia sob sua coordenação, aproveitando a mão de obra na invenção de novas peças. Acompanhava o andamento de seus projetos sempre que possível, pessoalmente. Mais que isso, punha a mão na massa, conhecia seus colaboradores pelo nome.  “Nada substitui a mão humana”, disse quando a Bienal de Arquitetura de Buenos Aires o elegeu o maior da América Latina.

Lelé foi um dos primeiros construtores a por os pé sna futura Brasília, projeto de Lucio Costa no qual Niemeyer ficou encarregado dos edifícios. Em 1957 chegava como voluntário – foram muitos “voluntários” na equipe de Niemeyer. E lá, diante dos trabalhadores distantes de suas casas desenvolveu com o material que tinha, a madeira, técnicas rápidas de erguer moradias provisória. A mão-de-obra que ergueria a capital do país, passou assim, a ter onde comer e dormir. 
 
Carioca radicado em Salvador, onde criou a Fábrica de Equipamentos Comunitários, foi responsável entre outras coisas pelas obras de revitalização do centro da capital baiana. Dedicou seus últimos anos a gerenciar a rede Sarah e alguns projetos residenciais mais esparsos. “Pros amigos”, dizia o braço construtivo de Darcy Ribeiro, que trouxe de países da ex-União Soviética técnicas no uso do concreto  que permitiram construção de 200 escolas em dois anos.  Se Niemeyer fez uma arquitetura para todo mundo ver. Lelé fez outra: para todo mundo usar.