O físico paulistano Igor Kazakos, 27 anos, sonha em alcançar o seu primeiro bilhão de reais. O empresário gaúcho Lirio Parisotto, 54, já chegou lá e caminha a passos largos para a marca de R$ 2 bilhões. A família Ferderbar, da foto ao lado, tenta seguir o mesmo caminho. Em comum, todos dividem uma paixão que conquista cada vez mais brasileiros: a Bolsa de Valores. A possibilidade de lucrar com ações – de preferência muito dinheiro e bem rápido – atrai milhares de pessoas em todo o País. Já são quase 500 mil pessoas cadastradas na Bovespa, a maior Bolsa da América Latina. Essa febre financeira se espalha rapidamente, desta vez com o reforço da influente agência de classificação de risco americana Standard & Poor’s. A S&P elevou o Brasil no final de abril ao status de destino seguro para investimentos. Com isso, o otimismo com o desempenho das companhias brasileiras aumentou e novos dólares foram enviados para cá. O Ibovespa, índice que mede a valorização dos papéis mais negociados na Bovespa, disparou e ultrapassou a marca dos 70 mil pontos pela primeira vez na segunda- feira 5. Novas fortunas foram feitas de um dia para o outro e a alta da Bolsa no ano chega a 8%, em média. E você, já embarcou nessa onda? Se quer ganhar dinheiro com ações, mas não sabe o caminho das pedras, comece virando a página.

Junto com o marido, Marco Falcone, ela investe na Bolsa desde 2000. Durante esse tempo, o casal conseguiu acumular um patrimônio superior a R$ 1 milhão, sendo R$ 400 mil só em ações. Eles contaram sua história no livro Como chegar ao seu primeiro milhão (Campus- Elsevier/R$ 41,50). O que não falta é literatura sobre o assunto. Não apenas nas livrarias, mas também na internet, nos sites da Bovespa, das instituições financeiras e das entidades ligadas ao mercado de capitais, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Anbid. A leitura, de acordo com o consultor financeiro Gustavo Cerbasi, é o ponto inicial para uma boa jornada na Bolsa. “O investidor tem que buscar orientação. Primeiro na leitura, depois com um especialista”, recomenda.

Decisão tomada, o próximo passo é procurar uma corretora. Pode ser ligada ao seu banco ou independente. Em sua conta, será depositado o dinheiro tanto da compra quanto da venda das ações. Os títulos comprados em seu nome ficam guardados em agentes de custódia (como bancos) ou na Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), entidade ligada à Bovespa. Como as ações são virtuais, a guarda é eletrônica. Toda transação na Bovespa tem a garantia da CBLC de que o vendedor irá receber o dinheiro e o comprador, a ação negociada. Depois, é preciso ter paciência e sangue-frio.

Família unida

O empresário Osmir Ferderbar, 43 anos, investe em ações há seis anos. A esposa, Francis, 42, há três. E a filha Karen, 15, começou este ano a freqüentar um clube de investimento. Francis é viciada na Bolsa. Administra a carteira da irmã e convenceu parentes e vizinhos a investirem em ações. Sua tia, Meires Margarete Rodrigues, de 52 anos, destina R$ 200 por mês para a Bolsa. “Já ganhei muito dinheiro com a Telemar e a Redecard”, diz Francis. Sua carteira própria começou com R$ 1 mil e chegou a R$ 100 mil. O segredo? “Compro a ação na baixa e vendo na alta.” Duro é saber a hora certa. “É preciso ter segurança, estudar o mercado e acompanhar o noticiário”, aconselha.

Novato destemido

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Aos 30 anos, Estevan Garcia, de São Paulo, é novato na Bolsa. Começou em dezembro passado. Não leu nada sobre investimentos nem procurou nenhum especialista antes de aplicar R$ 10 mil em ações da Vale. Quando os papéis despencaram no início do ano, ficou preocupado. “Comecei perdendo”, lamenta. Pouco a pouco, o papel foi se recuperando e acumula 9% de valorização em 2008. “Quero deixar esse dinheiro lá por, no mínimo, oito anos”, conta. Agora, ele é um leitor ávido de notícias sobre o mercado financeiro e, obviamente, a Vale. Também teve que aprender a ler os balanços da companhia. “Não me importo em correr riscos.”

O primeiro passo é entender o que é a Bolsa de Valores e o que acontece lá dentro. Não se trata de um cassino, nem de um jogo de cartas marcadas. A bolsa nada mais é do que um mercado organizado e seguro no qual se negociam ações e outros títulos emitidos pelas empresas que necessitam de capital para crescer. Uma ação é a menor parte do capital de uma companhia e, ao comprá-la, você se torna sócio e tem direito a uma fatia proporcional dos lucros gerados pelo negócio. Receberá, em sua conta corrente, os dividendos merecidos (leia glossário). Os preços das ações são livres e oscilam conforme a oferta e a demanda, refletindo não apenas as perspectivas de lucro das empresas como as expectativas econômicas de investidores e especuladores.

Cada vez que a Petrobras faz uma nova descoberta de petróleo, suas ações sobem. Da mesma forma, lucros menores que o esperado derrubam os papéis. Diariamente, cerca de R$ 6 bilhões em ações trocam de mãos na Bovespa. Nos últimos 12 meses, o Ibovespa oscilou 58% entre a cotação mínima (44.937 pontos) e a máxima (70.973 pontos). Ou seja, aplicar na Bolsa é um negócio de alto risco. Antes de se aventurar nesse mercado, é necessário decidir se é realmente o tipo de investimento mais indicado para o seu perfil. “A pessoa tem que estar ciente de que pode perder dinheiro”, aconselha a engenheira Regina Tesima, de Curitiba.

Do salão ao pregão

A cabeleireira Cristiane Litrico, 31 anos, enxergou na Bolsa a melhor oportunidade de fazer crescer seu modesto patrimônio. Em dezembro, pagou R$ 1,8 mil por 91 ações da BM&F. Na mesma semana, poderia ter retirado R$ 2,2 mil, mas preferiu não mexer no dinheiro. “Soube de um rapaz que ficou rico assim, deixando o dinheiro três anos na Bolsa. E a minha idéia é ficar rica.”

Físico investidor

Igor Kazakos estreou na Bolsa aos 16 anos, administrando junto com os pais os investimentos da família. Ainda menor de idade, o “Grego” , como é conhecido, administrou uma carteira de US$ 500 mil. Mas somente aos 18 anos começou a investir o próprio dinheiro. A primeira aplicação foi de R$ 350. Aos 24, já havia acumulado R$ 350 mil, sem nunca ter tido um emprego. Igor se formou em física pela USP e sua renda vinha justamente da administração dos investimentos em ações para colegas e professores. “Administrava R$ 1,5 milhão de 13 pessoas”, conta. Por alguns anos, foi monitor de alunos na USP e a comissão que ganhava por aplicar o dinheiro de amigos representava 90% da sua renda. Ele gosta mesmo é do mercado de opções, a operação mais arriscada da Bolsa. Recentemente, conseguiu seu primeiro emprego: analista e gestor de um fundo multimercado. O trabalho é apenas o primeiro passo para um alvo maior. “Meu objetivo é chegar a R$ 1 bilhão e comprar um banco”, diz.

 


Junto com o marido, Marco Falcone, ela investe na Bolsa desde 2000. Durante esse tempo, o casal conseguiu acumular um patrimônio superior a R$ 1 milhão, sendo R$ 400 mil só em ações. Eles contaram sua história no livro Como chegar ao seu primeiro milhão (Campus- Elsevier/R$ 41,50). O que não falta é literatura sobre o assunto. Não apenas nas livrarias, mas também na internet, nos sites da Bovespa, das instituições financeiras e das entidades ligadas ao mercado de capitais, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Anbid. A leitura, de acordo com o consultor financeiro Gustavo Cerbasi, é o ponto inicial para uma boa jornada na Bolsa. “O investidor tem que buscar orientação. Primeiro na leitura, depois com um especialista”, recomenda.

Decisão tomada, o próximo passo é procurar uma corretora. Pode ser ligada ao seu banco ou independente. Em sua conta, será depositado o dinheiro tanto da compra quanto da venda das ações. Os títulos comprados em seu nome ficam guardados em agentes de custódia (como bancos) ou na Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), entidade ligada à Bovespa. Como as ações são virtuais, a guarda é eletrônica. Toda transação na Bovespa tem a garantia da CBLC de que o vendedor irá receber o dinheiro e o comprador, a ação negociada. Depois, é preciso ter paciência e sangue-frio.

A Bolsa é uma onda que sobe e desce e, para conseguir ganhos, a primeira regra é jamais vender seus papéis nos piores momentos, quando estiverem em baixa. Esse foi um dos erros cometidos pelo casal Falcone e Tesima. Em 2005, com a gripe aviária, suas ações da Perdigão só despencaram. “Caíram tanto que pensamos que ninguém fosse voltar a comer frango no mundo”, diz Falcone, bemhumorado. Decidiram se desfazer do papel. Se o tivessem mantido, teriam obtido 46% de valorização. No entanto, existem ações que são verdadeiros “micos”. São aquelas que você comprou na baixa e que nunca subiram. “Não se case com o papel. Se está dando prejuízo, parta para outro”, aconselha a investidora Laura Ferreira, 73 anos, que comprou sua primeira ação em 1971.

Muitos novatos acreditam que podem ganhar mais comprando e vendendo ações no curto prazo. Pode até ser, mas o risco de perdas também é muito alto. A maioria dos investidores bem-sucedidos prefere manter carteiras de longo prazo. Warren Buffett, o homem mais rico do mundo e notório investidor americano, costuma dizer que “o melhor prazo para se investir em uma ação é para sempre”. O brasileiro Lirio Parisotto, dono da Videolar, é um que escolhe bem e tem paciência para esperar os melhores resultados. Nos últimos 11 anos, ele investiu cerca de R$ 180 milhões em ações. De milionário, passou a bilionário operando na Bolsa. Entre perdas e ganhos, acumulou uma carteira de R$ 1,6 bilhão (leia quadro). Agora, planeja abrir seu fundo pessoal de investimentos para outros investidores, em parceria com a corretora Geração Futuro. “Estamos negociando”, diz.

Os fundos de ações são a porta de entrada para os marinheiros de primeira viagem na Bolsa. Quem prefere investir diretamente e escolher seus próprios papéis pode fazê-lo de sua própria casa, pela internet. Os sites dos bancos e das corretoras conectam seus clientes à Bovespa por meio de um sistema conhecido como home broker. Basta clicar e navegar para dar ordens de compra e venda de ações. Os computadores se encarregam de tudo. As instituições cobram por este serviço (leia quadro abaixo) e, além da intermediação, oferecem relatórios sobre setores e empresas aos clientes mais assíduos. “De nossos 70 mil clientes, 40 mil operam sozinhos no home broker”, afirma Helio Pio, diretor comercial da Ágora.

Para não fazer da sua estréia na Bolsa uma verdadeira roubada, não tenha vergonha de perguntar. Assuma-se leigo e procure entender para onde o seu dinheiro está indo. Afinal, são as suas economias que estão em jogo. Descubra quais são as blue chips, as empresas de primeira linha preferidas pelos investidores. Nomes como Petrobras, Vale, Bradesco, Itaú, Usiminas, Unibanco, CSN e Gerdau são os mais negociados na Bovespa. Mergulhe mais fundo e encontre as ações de segunda linha com bons potenciais de ganho no futuro.

Nesse aprendizado, existem cursos em todo o País. A própria Bovespa fornece um de introdução ao mercado de ações. Qualquer pessoa pode se inscrever. Nos escritórios do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte da corretora Ágora, os cursos são oferecidos gratuitamente. O importante é começar. Fazer o dinheiro trabalhar por você na Bolsa pode ser, quem sabe, uma opção de vida. Igor Kazakos faz brotar do mercado de ações toda a sua renda, sem jamais ter tido um emprego. Começou investindo R$ 350 aos 18 anos e em seis anos acumulou R$ 350 mil. O sonhado bilhão está longe, mas já começou.

Garoto previdente
Gabriel Toledo, de Itapetininga (SP), tem apenas 16 anos, mas já investe em ações. “Se eu investir R$ 100 reais por mês, em 30 anos vou ter no mínimo R$ 5 milhões”, projeta. Começou com R$ 380 e 18 meses depois acumula R$ 3 mil.
 

Dupla milionária

Quando se casaram, em 1998, os engenheiros Marco Falcone e Regina Tesima, de Curitiba, não tinham grandes pretensões financeiras. Entraram na bolsa investindo em Petrobras e Bradesco. Em apenas dois anos, conseguiram 75% de lucro. Venderam os papéis para comprar a casa própria. Depois de aprender a operar por meio de um simulador, recomeçaram a investir em ações. Os R$ 10 mil iniciais e novos aportes mensais viraram R$ 100 mil. Hoje, possuem um patrimônio de R$ 1,1 milhão.  

Engordando a pensão

Laura Ferreira, 73 anos, é aposentada e mora no Rio de Janeiro. Começou a investir em ações nos anos 1970. Com as repetidas crises econômicas, saiu da Bolsa é só voltou em 1996. “Voltei para reforçar a minha aposentadoria. É uma poupança para quando eu precisar, já que servidor público não recebe aumento”, queixa-se. Metade de suas aplicações está em ações como Petrobras, CSN, Vale e outras blue chips. Tentou investir em papéis de segunda linha, mas desistiu. “Trabalhar em curto prazo com pouco capital não compensa.” 

Do milhão ao bilhão


O empresário Lirio Parisotto, dono da fabricante de CDs e DVDs Videolar, transformou aplicações de R$ 180 milhões em R$ 1,6 bilhão. Sua carteira tem 12 papéis (leia quadro abaixo) e valorizou-se 19% em 2008, mais que o dobro da alta do Ibovespa. “Não olho a Bolsa todo dia, reinvisto tudo o que ganho e alugo todas as ações que puder”, diz. O aluguel, no caso, é um sistema da Bovespa (o banco de títulos BTC) que permite aumentar a rentabilidade das ações emprestando-as por um período determinado. “Dá para ganhar mais 2% a 3% ao ano”, diz. Aos 54 anos, ele pretende investir em ações o resto da vida. Se tudo der certo, em breve abrirá seu fundo particular para outros investidores. E o que fará com tanto dinheiro depois? “Vou deixar um pouco para minha filha e o resto vou doar”, anuncia.
 


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