Foi-se o tempo em que as crianças tinham vergonha de usar óculos. Com armações coloridas, metais e lentes que aguentam qualquer travessura, os óculos extrapolaram a função de corretivo e viraram acessório entre a criançada. Gabriel de Lima, seis anos, não tira a armação de aros vermelho e verde para nada. Faz o maior sucesso na escola. “Os amigos gostam e querem ter igual”, conta ele, orgulhoso.

Atentas à importância do primeiro contato com os óculos – talvez um parceiro para toda a vida – e sem ignorar o poder infantil na hora da compra, algumas lojas começam a oferecer serviço de consultoria aos clientes mirins. “As cores ajudam a motivar a criança. A pecha de quatro- olhos dá lugar à admiração dos colegas”, destaca o designer Piero Savino, da Silvinho e Piero, de São Paulo.

A loja nem parece uma ótica. Há vitrines com motivos infantis, sofás e duas pequenas mesas. “Conversamos com a criança para conhecê-la e saber do que gosta. Só interferimos na escolha se o tamanho dos óculos não for adequado”, afirma Savino. Combinar ou não com o formato do rosto fica em segundo plano para os pequenos. “O importante é sentirem-se atraídos pelos óculos”, diz o designer. Para os bebês, por exemplo, Savino não indica a haste com curva atrás da orelha. “Como estão em crescimento, a haste pode provocar orelhas de abano. A haste com uma fita de velcro para ajustar é a mais indicada”, opina.

A maioria das armações de metal colorido é importada e cara. A única nacional é a Senninha, cuja venda é revertida para o Instituto Ayrton Senna. Mas as novas tecnologias parecem sob medida para as traquinagens infantis. As de titanium (R$ 400, da Nigura) são inquebráveis e anti-alérgicas. As de fios de aço (R$ 140) entortam, mas não quebram. E as de alumínio são extremamente leves. Pela marca alemã Rodenstock, uma das melhores, podem-se pagar até R$ 350. As mais indicadas para as crianças são as de acrílico, que não quebram, mas riscam; ou as de cristal endurecido, que não estilhaçam. Aos bebês, que ainda não têm o osso do nariz desenvolvido, o mercado oferece ainda uma plaqueta siliconada e macia para apoio dos óculos.

Em vez de brigarem com a dificuldade visual, as crianças agora transformam os óculos em brincadeira ou hobby. Marcela Oliveira, 11 anos, usa óculos desde os dois anos e adora. Quanto mais diferente, melhor. Tem uma coleção e já chegou a pintar com corretivo líquido escolar bolinhas brancas em um par. Só para ficar diferente. “Na escola e em festinhas, uso os que chamam atenção. Às vezes, as pessoas estranham, mas eu adoro”, diz a menina.