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A idéia de renovar o programa Domingão do Faustão, da Rede Globo, com um quadro de música clássica foi defendida pelo apresentador Fausto Silva junto à direção da emissora e aceita com reservas. O próximo passo foi convidar o pianista paulista João Carlos Martins para formatar a nova atração, que combinaria a apresentação de um pianista com uma orquestra formada por jovens músicos saídos de instituições ligadas a projetos sociais. No último domingo de setembro, o programa exibiu Arthur Moreira Lima acompanhado de uma orquestra de Volta Redonda e, para surpresa da emissora, a audiência alcançou 28 pontos no Ibope. É um nível semelhante ao das Videocassetadas, um dos quadros mais populares do Faustão, em que são exibidas gravações caseiras enviadas pelos próprios telespectadores. "O projeto nasceu de conversas com o maestro João Carlos Martins. Pensávamos num formato mais popular para levar a música clássica a um número maior de pessoas", diz Fausto Silva. O quadro será mensal e o próximo tocará a música Pour Elise, de Ludwig van Beethoven.
Todas as orquestras que participam do programa são vinculadas a organizações não-governamentais ou entidades privadas. Fausto diz que pode aproveitar a conversa prévia com o maestro para contar ao público curiosidades sobre os grandes artistas. "Como, por exemplo, dizer que existiu um importante compositor que era surdo", afirma, referindo-se a Beethoven. Os bons resultados da audiência também animaram a TV Cultura, que há três anos apresenta o show de calouros Prelúdio, com orquestra regida pelo maestro Julio Medaglia. "Eu acho que o programa de auditório é o melhor caminho para popularizar a música clássica", diz Medaglia. Segundo ele, mais de 100 artistas, entre solistas e instrumentistas, despontaram no programa e conseguiram seguir uma carreira profissional.
O sucesso de Prelúdio se mede pelas suas últimas conquistas: é transmitido todas as semanas no horário nobre da emissora, às 19h30, e pelo menos 50 pessoas estão na fila de espera para tentar uma vaga no show. A audiência oscila de 1,5 a 3, uma média considerada muito boa para os padrões de uma tevê educativa. Medaglia afirma que o perfil dos músicos que se candidatam é bastante amplo. "Tem meninos da alta sociedade e garotos das periferias que aprenderam a tocar em projetos sociais, como o Guri, por exemplo", diz ele, que fica fascinado com a diversidade de instrumentistas lançados pelo programa. Um menino de apenas 13 anos tocou um concerto de Mozart num fagote, outro rapaz apresentou uma composição de Paganini tocada no eufônio, um tipo de tuba de som mais agudo. "São instrumentos raros, que quase não se vêem nas orquestras. Mas há brasileiros que os tocam", diz Medaglia.