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Um bando de manos de calças largas e camisetas x-large andando de um lado para o outro, gesticulando e vociferando contra tudo e contra todos – até há bem pouco tempo era assim um show de rap. Glow in the dark, o milionário espetáculo que o rapper americano Kanye West apresenta no Tim Festival (São Paulo, Parque do Ibirapuera, quarta-feira 22; Rio de Janeiro, Marina da Glória, sexta-feira 24), veio para acabar com isso. Com uma estrutura de 50 toneladas, digna de megabandas de rock, o show exibe uma parafernália de causar inveja às estrelas do gênero – e elas não são poucas no festival, a começar por Paul Weller e por grupos como Klaxons, The National e MGMT. A performance incendiária – do palco surgem "gêiseres" de fogo, o que exigiu um esquema especial antiincêndio – simula uma viagem espacial em que West contracena com mulheres virtuais e com um robô tripulante de uma espaçonave controlada por computadores, chegando até a ser engolido por um dinossauro de dimensões reais. Tudo isso para "trazer a criatividade de volta à Terra". Muitos acharão a sucessão de efeitos uma espécie de "show da Xuxa" digital. Mas o que está em jogo é o status de pop star atingido por Kanye West. Aos 31 anos e quatro de carreira, ele conquistou o posto de um dos maiores nomes da música nos EUA, ampliando o público do rap para além da tribo hip-hop. Mesmo tendo surgido em plena crise da indústria fonográfica, West é um campeão de vendagens – seu primeiro trabalho, The college dropout, de 2004, vendeu três milhões de cópias nos EUA; o segundo, Late registration, atingiu a cifra de 2,8 milhões e o terceiro, Graduation, do final de 2007, já ultrapassou o patamar do 1,5 milhão. Ao todo, ele já ganhou dez Grammy. O segredo do sucesso? Invenção, criatividade e uma completa abertura para a novidade. Além de uma queda para a polêmica: eleitor de Barack Obama, foi ele quem disse a frase: "Bush não está nem aí para os negros", no auge da crise gerada pelo furacão Katrina.

Saído de uma escola de artes de Chicago, West ganhou nome como produtor de hip-hop e logo tentou ser rapper. A elite do gênero franziu a testa. Ele não tinha perfil para a coisa: usava camisa rosa, roupas Gucci e, segundo seu amigo Jay-Z, "não parecia ter crescido nas ruas". Foi só o CD The college dropout ser lançado para todo mundo se render à evidência: Kanye West era um gênio da colagem musical e da pós-produção digital. Em suas canções cujas letras fogem do clichê racista, sexista e homofóbico, são comuns os samples (trechos de canções) de clássicos do soul, as incríveis bases eletrônicas e os sofisticados arranjos de cordas. Além de participações vocais surpreendentes, como a do ator Jamie Foxx ou dos roqueiros Adam Levine, do Maroon 5, e Chris Martin, do Coldplay. Isso explica por que Madonna quis tê-lo em seu novo CD, na faixa Beat goes on – aliás, uma das melhores do disco Hard candy.


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