Já há um senso comum de que não será um passeio, como se pensava inicialmente, a tentativa da presidenta Dilma Rousseff de emplacar um segundo mandato. Não faz muito tempo, a impressão de que Dilma levaria facilmente a eleição, até no primeiro turno, tomava conta não só de partidários e aliados como também de críticos e adversários políticos. O clima mudou, e rápido, na esteira de escândalos, descontrole administrativo e apatia econômica. Dilma perdeu apoio entre governadores, entre legendas que compõem a aliança e mesmo diretamente nas hostes petistas. A tal ponto que a grita pelo “Volta, Lula” ganhou proporções inesperadas. Passou a ser exibida abertamente por parlamentares de siglas da base, como o PR. E até nos meios digitais um movimento autodenominado “Lula 2014” tomou corpo. A avaliação do governo vem experimentando consecutivas quedas. A Pesquisa ISTOÉ/Sensus mostra, por exemplo, que pela primeira vez o índice de entrevistados que desaprovam o desempenho pessoal de Dilma é maior (49,1%) do que o daqueles que aprovam (40,2%). Da mesma maneira, mais de 50% dos que responderam disseram que o País não está no rumo certo. Apenas 20,1% acreditam que sim, que o caminho adotado é o correto. E as razões para a descrença estão também descritas na pesquisa. Lá aparece com um destaque inusual entre os assuntos que mais preocupam os brasileiros o tema da corrupção, posicionado em quarto lugar numa lista de inúmeras prioridades. Nada desprezível. O clima de rejeição nacional “contra tudo que está aí” parece ser a tônica na maioria da população. Isolada e pressionada, Dilma teve que sair em contraofensiva nos últimos dias bradando a lealdade entre ela e Lula. “Ninguém vai me separar de Lula, nem ele vai se separar de mim”, disse. Soou mais como um apelo. Em resposta aos rebelados da base e à rejeição crescente disse que será candidata com ou sem o apoio dos aliados. O momento delicado e decisivo pelo qual passa a sua candidatura reforça uma vez mais a velha máxima de que a política é como uma nuvem, em constante mutação. E as tempestades que ali se formaram e hoje se abatem sobre o Planalto, ao que tudo indica, não deixarão espaço para meros passeios na corrida presidencial.