Foram cinco anos de trabalho e 15 impressões desmarcadas na porta da gráfica, mas desta vez Roberto Carlos aprovou. Depois de três livros tirados de circulação e incontáveis tentativas de frustradas de biógrafos e historiadores com projetos biográficos, o primeiro livro sobre a trajetória do Rei chega ao mercado por nada módicos R$ 4.500 e a tiragem quase esgotada na primeira semana. O cantor, avesso a todo tipo de comentário sobre sua vida, disse sim com uma primeira condição de muitas: que o livro não tivesse nenhuma palavra.

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Assim, o volume não traz nenhuma menção sobre a volta ao consumo de carne depois de fechar campanha publicitária para um frigorífico, da paixão não consumada pela cantora Wanderléa ou sobre a prótese mecânica que substitui a metade da perna direita amputada na infância. Mas tem muitas fotos dele com a Ternurinha, acompanhado de cada uma das três mulheres (Cleonice Rossi, Myriam Rios e Maria Rita), com o amigo, parceiro e, durante algum tempo, desafeto Erasmo Carlos e muitas celebridades da cena musical da época da Jovem Guarda até os dias atuais.

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VAIDADE
O Rei participou da escolha das fotos, aprovou as montagens (abaixo)
e palpitou sobre o tratamento de imagens, pedindo para não
exagerar no Photoshop, "para não ficar com cara de artificial"

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“Está tudo lá”, garante Carlos Ribeiro, coordenador do projeto mais demorado da Toriba, editora da fotobiografia de Pelé, “1283”. “O Dody Sirena (empresário do astro) disse que se tivesse texto, nem em dez anos conseguiríamos terminar o livro”, diz o editor. “E concordo. Nunca conheci ninguém tão perfeccionista.” O excesso de revisões, trocas, mudanças de ordem e observações técnicas nos tratamentos das fotos, conta Ribeiro, se devem principalmente ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) que Roberto Carlos trata há alguns anos. “Ele olhou e reolhou detalhes até um ponto de se tornar insuportável até para ele”, lembra o editor. O cantor, uma das cabeças do movimento Procure Saber, que defende a submissão de biografias a seus biografados, esteve em São Paulo para um lançamento reservado do primeiro lote – o contrato prevê até seis lotes de 500 exemplares, num total de 3 mil volumes.

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O livro teria o tamanho da edição com fotos do Pelé, 47 por 34 centímetros. Mas o Rei achou que a peça seria grande demais para ser manipulada pela parcela mais importante de seu público, as mulheres. E assim, a edição de luxo, impressa numa das mais sofisticadas gráficas italianas –  a Graphicom, de Verona –, foi reduzida para 44 por 32 centímetros, com 300 imagens selecionadas entre mais de quatro mil fotografias vindas principalmente em arquivos de jornais e revistas. “Ele não se lembrava da maior parte delas. Alguns momentos de revisão do passado foram comoventes. Roberto Carlos é emocional, como suas músicas. E suas letras quase sempre contam o que ele viveu ou sentiu.”, diz Ribeiro. Essa constatação resolveu parcialmente um dos problemas do projeto, o veto ao texto, o que exclui legendas e informações que dariam contexto importante às imagens. Trechos de canções de Roberto Carlos acompanham as fotos, sugerindo situações do momento da vida do compositor. O Rei autorizou a reprodução de documentos, como roteiros de shows e páginas de uma agenda “Colibri” do cantor com o que talvez seja a primeira escrita da letra de “Namoradinha de um Amigo Meu”, anotada à mão numa sexta-feira de fevereiro de 1966, pouco antes de a música ser lançada. “Tudo foi aprovado em conjunto. Cuidado que todo mundo deveria ter”, disse Roberto Carlos durante o lançamento na capital paulista, reafirmando sua posição a respeito da legislação sobre as biografias no Brasil.

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Fotos: Divulgação; Cláudia Schembri


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