Dois dos maiores clubes brasileiros, Palmeiras e São Paulo romperam relações na semana passada. O racha, com direito a bate-boca público entre seus presidentes, se deu pela disputa por Alan Kardec, um jogador nada extraordinário que, aos 25 anos, virou água cristalina no deserto atual do nível técnico dos atletas que atuam no Brasil. O Palmeiras, como afirmou seu presidente, Paulo Nobre, tomou um “passa-moleque” do tricolor paulista, que convenceu o atacante a trocar de clube ao oferecer um salário de R$ 350 mil – 175% superior ao que o alviverde queria pagar para o seu camisa 14 renovar o contrato que ainda está em vigor. O São Paulo, de Carlos Miguel Aidar, não esperou as negociações entre o jogador e o Palmeiras terminarem e atravessou a transação sem sequer consultar o clube de Kardec. “Dois presidentes de clubes se interessaram pelo Kardec, me ligaram e disseram que iam aguardar o fim da nossa negociação para tentar contratá-lo”, disse Nobre à ISTOÉ na quinta-feira 1º. “Essa é a postura ética e não a populista, imediatista, feita pelo presidente do São Paulo, para ficar bem com a torcida, que acha o máximo o ‘roubo’.”

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RACHA
Queda de braço entre Palmeiras, do presidente
Nobre (abaixo), e São Paulo (última) pelo atacante Kardec:
relações cortadas e prejuízo para o futebol

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Para Eduardo Tega, diretor da Universidade do Futebol, instituição que capacita gestores, a ausência de um mercado regulado favorece um ambiente antiético no esporte. É nesse cenário que jogadas marotas, como a do presidente do São Paulo, conseguem prosperar. “A queda de braço enfraquece a união dos clubes por melhores condições para o futebol”, diz Tega. Comentarista dos canais ESPN, o jornalista Mauro Cezar Pereira vai na mesma direção: “Apesar de a ética não existir no futebol, e o São Paulo estar amparado pela lei, o comportamento dele não foi adequado, inteligente. Às vezes, é melhor não assediar jogador pelo bem comum.”

A existência de um código de ética entre os clubes de futebol é uma utopia. Em 2012, Flamengo e Fluminense travaram uma disputa pelo meio-campista Thiago Neves, então atleta do árabe Al Hilal. Emprestado ao Flamengo, o jogador acertou salários com o Fluminense enquanto estava no rubro-negro e para lá se transferiu. Thiago deu chapéu até em seu empresário, que negociava com o Flamengo enquanto o jogador já havia acertado com o time rival.

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Se não há santo nesse mercado, atualmente, o diabo veste tricolor: o São Paulo ostenta a fama de aliciador de jogadores. No ano passado, cansados de episódios de assédio, sete clubes ameaçaram não disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior, caso o time não fosse excluído. A situação foi contornada – ninguém foi afastado ou abandonou o torneio. Enquanto os presidentes não se sentarem para elaborar um código de princípios, casos como o de Kardec vão se repetir. Fica difícil, para quem age dessa forma, pedir ética, respeito e civilidade para as torcidas organizadas.

Fotos: Ferdinando Ramos/Frame/Folhapress; Marcelo Machado de Melo/Fotoarena; Ale Cabral/Agência O Dia


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