As sucessivas quedas da presidenta Dilma Rousseff nas pesquisas encerraram os tempos de conforto e otimismo no Planalto e levaram o QG da campanha  do PT a definir, em reuniões reservadas, um conjunto de medidas para tentar estancar a hemorragia de votos. A prioridade, hoje, é recuperar a unidade do partido.  Com uma agenda de momentos difíceis até o 5 de outubro – inflação nos alimentos, protestos na Copa do Mundo, denúncias sobre a Petrobras –, o governo tentará cortar pela raiz o movimento Volta, Lula – articulação de empresários, militantes de base, prefeitos e parlamentares que sonham substituir a candidatura de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais pela de Luiz Inácio Lula da Silva.    

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TRABALHADORES REUNIDOS
Evento pelo Dia do Trabalho reuniu milhares de pessoas em São Paulo, na quinta-feira 1º

Convencido de que o Volta, Lula só contribui para dispersar o partido e derrubar as intenções de voto da presidenta, Lula acertou com Dilma uma participação no Encontro Nacional do PT, na noite da sexta-feira 2, em São Paulo, para repetir com ênfase aquilo que não para de dizer nas últimas semanas: não é nem pretende ser candidato ao Planalto e vai trabalhar pela reeleição de Dilma. “O Volta, Lula, hoje, só beneficia nossos adversários,” afirma a deputada Fátima Bezerra (PT-RN). Numa cena sob medida para constranger o governo, na semana passada 20 parlamentares do PR, partido da base de Dilma, que já abrigou o vice de Lula, José Alencar, assinaram um manifesto a favor do Volta, Lula. Em outro esforço de pacificação, o Planalto tenta enquadrar a cúpula da Petrobras. A atual presidente, Graça Foster, e o ex-presidente Sérgio Gabrielli têm divergido publicamente, o que, para o governo, pode produzir escândalos fatais até a eleição.

Governo tenta cortar pela raiz o coro  do Volta, Lula
que na avaliação  do Planalto tira votos de Dilma

Como parte da reação, na véspera do 1º de maio Dilma fez um pronunciamento de 12 minutos em rede nacional. Num tom militante e com sorrisos quase permanentes,  anunciou um  conjunto de medidas favoráveis – chamado de “pacote de bondades” pela oposição – ao eleitorado tradicional do PT, formado por famílias de trabalhadores e cidadãos mais pobres. Começou com um reajuste de 10% no programa Bolsa Família – o valor do benefício médio passará de R$ 216 para R$ 242 – e a correção na tabela do Imposto de Renda. Também assumiu o compromisso de manter a política de valorização do salário mínimo, alvo de um debate difícil entre empresários e sindicatos. “Nosso governo nunca será o governo do arrocho salarial nem o governo da mão dura contra o trabalhador,” disse Dilma.   

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OLHO NA CLASSE MÉDIA
Em pronunciamento na tevê, Dilma prometeu corrigir a tabela do Imposto de Renda

Os próximos meses permitirão avaliar acertos e erros dessa intervenção. O problema é que Dilma enfrenta uma dificuldade essencial em 2014. Pela primeira vez desde que Lula chegou ao Planalto, em 2003, a economia deixou de ser um vento a favor das campanhas do PT. O emprego continua no melhor patamar da história e a renda continua subindo, mesmo lentamente. Isso ajuda Dilma. Mas a inflação tornou-se o maior obstáculo à reeleição. Em média, a alta de preços não sofreu alterações substanciais. O problema é que atingiu os alimentos e, mesmo que não se possa culpar o governo pelos efeitos nocivos da seca prolongada, também não é possível convencer o eleitor a ficar menos irritado por causa disso. As medidas anunciadas na semana passada pretendem responder a essa situação – a dúvida é saber como serão recebidas pela população.

Foto: Alice Vergueiro/Futura Press