Nos últimos 20 anos, o Partido dos Trabalhadores jamais apresentou um candidato tão competitivo para disputar o Palácio dos Bandeirantes quanto o ex-ministro Alexandre Padilha. É um sujeito moderado, com a imagem de “bom genro”, semelhante à do governador tucano Geraldo Alckmin, e que, durante sua passagem pelo Ministério da Saúde, conseguiu construir uma marca própria poderosa: o programa Mais Médicos, que levou profissionais de saúde aos rincões do País e também às periferias das grandes metrópoles. Para completar o quadro, com as alianças que vêm sendo costuradas, Padilha poderá ter mais tempo de televisão na propaganda política do que Alckmin, o governador que, acossado por uma crise de abastecimento de água, disputa a reeleição sem o mesmo favoritismo do passado. Ou seja: totais condições para que o mago João Santana possa trabalhar.

O cenário acima descrito produzia, no PT, a percepção de que, com tais qualidades e vantagens competitivas, Padilha chegaria facilmente ao segundo turno da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, quando atrairia o apoio de outros dois candidatos: Paulo Skaf, do PMDB, e Gilberto Kassab, do PSD. Assim, com três nomes fortes unidos contra Alckmin, seria possível encerrar o ciclo de 20 anos de poder do PSDB em São Paulo – um sonho há muito tempo acalentado pelo PT e pelo ex-presidente Lula.

No entanto, a menos de seis meses das eleições, a campanha de Padilha, que ainda não atingiu seu voo de cruzeiro, recebeu um disparo fulminante e talvez fatal. Um tiro que partiu da própria Polícia Federal, subordinada ao ministro José Eduardo Cardozo – nome que, no ano passado, também era lembrado como eventual alternativa para o Palácio dos Bandeirantes.

Segundo a PF investiga, foi Padilha quem indicou o executivo Marcus Cezar de Moura, ex-funcionário do Ministério da Saúde, para trabalhar no Laboratório Labogen, ligado ao doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato.

O indício seria uma mensagem do deputado André Vargas (PT-PR) ao próprio Youssef com os dizeres “foi o Padilha quem indicou”. O ex-ministro, claro, poderá alegar que Vargas usou seu nome indevidamente e de forma leviana. Mas o estrago já está feito e estampado em todas as manchetes.

Para tornar ainda mais complexo o quadro, o PT hoje briga publicamente e o próprio presidente da legenda, Rui Falcão, afirma que a melhor saída para Vargas é renunciar – conselho que o ex-vice-presidente da Câmara dos Deputados, naturalmente, dispensa. Falcão imaginava que a eventual saída de Vargas saciaria a sede dos adversários e que sua resistência poderia contaminar duas campanhas importantes do PT: a de Padilha, em São Paulo, e a da também ex-ministra Gleisi Hoffmann, no Paraná. Dizia-se que, com Vargas no partido e na Câmara, o PT poderia “pagar o pato”. Já está pagando. E quem está na mira, agora, é Padilha.