Somos quatro os colunistas desta última página. Três homens e eu. Já tive uma companheira de gênero nesse nosso pedaço e adorava ler seus artigos. Márcia Cabrita se despediu da função revelando o que a maioria esconde. “Poderia contar uma linda história, mas optei pela verdade: é muito difícil para mim. Essas pesquisas que apontam a profissão de controlador de voo como a mais estressante não vieram aqui em casa medir o meu estresse no dia do fechamento da revista.” Marcinha está certa. As leitoras mulheres sabem. É assim mesmo.

Temos um medo atávico de não dar conta. De não sermos eficientes o bastante. De não atendermos a 100% das expectativas. De fracassar. Observamos há décadas, com indisfarçável espanto, aquela permanente autoconfiança masculina. Aquele jeito de “eu resolvo”, “quando eu começo?”, “sou bom demais para ganhar tão pouco, quero um aumento!” Eles não esperam o elogio, promovem-no. Sabem que no mundo da competição autoconfiança é metade do caminho andado. E o quanto já desejamos chegar ao topo deste mundo!

Acabo de chegar de Nova York e vim lendo artigos sobre um livro que foi lançado na semana passada por duas jornalistas americanas, Katty Kay e Claire Shipman. Chama-se “The Confidence Code” e explica a origem do título: por que temos menos autoconfiança que os homens. E temos mesmo. Vários estudos científicos comprovam essa diferença entre os sexos.

Segundo as autoras, a falta de confiança em si mesmas faz com que as mulheres nem tentem agir quando se deparam com o novo. Mas, quando são forçadas a agir, elas alcançam o mesmo desempenho masculino nas mesmas situações. Ou seja, há uma ligação estreita entre confiança e ação. Quando a ação é bem-sucedida, ela gera confiança para a mulher agir de novo. E, no tal mundo do trabalho sobre o qual se debruçam as autoras, confiança – e ação – é tão importante quanto competência para se atingir o sucesso! Afinal, defendem elas, sem confiança nunca nos sentimos prontas para uma promoção, sempre antecipamos o pior resultado para um trabalho que realizamos e subavaliamos nossas habilidades. Essa seria a má notícia. Mas a boa, para as autoras, é para mim a pior. É possível reverter esse quadro! Com treino e obstinação podemos adquirir tanta autoconfiança quanto os homens
e agir exatamente como eles agem!

Bem, vou pedir licencinha então para desembarcar dessa locomotiva. Marcinha, tô contigo. Ando com muita preguiça de tanto movimento! Estou exausta do personagem “pode mandar que é gol!” Em NY chamam de “attitude”. Atitude de quem sabe, de quem pode, de quem não vacila e entrega rápido o resultado. Ora, será que confiança tem que gerar ação imediata? Será que autoconfiança e autoestima são a mesma coisa? Para mim, autoestima denota o carinho que você pode desenvolver por você. Você e seus defeitinhos, seus medos, suas inseguranças, seu déficit em autoconfiança. E pode significar que você quer tempo para agir no seu tempo.

Enquanto o universo das empresas quiser mulheres que transpiram certezas e agem sem demora, vai perder as muito competentes que só querem ser elas mesmas. As que gostam de si como são. E, se o bacana é a diversidade, um exército de autoconfiantes me parece um tanto tedioso. Já vesti a capinha de Mulher Maravilha. Ficou puída de tanto uso. Foi pro baú das memórias de um tempo que até foi legal. Mas passou.

Ana Paula Padrão é jornalista e empresária