O empresário Henry Maksoud gostava de ter controle absoluto sobre a vida pessoal e os negócios. Não à toa, ergueu um dos mais imponentes hotéis do País, o Maksoud Plaza, e se tornou um empreendedor de sucesso entre os membros da elite paulistana. Com o passar dos anos, no entanto, a administração familiar começou a revelar problemas e os cifrões de seu patrimônio diminuíram. A manutenção da harmonia familiar também fugiu de seu controle quando, em 1999, o primogênito, Roberto Félix, abandonou o cargo de diretor do hotel, o mais glamouroso de São Paulo na década de 1980. Quinze anos depois, distante dos filhos e diagnosticado com câncer de pulmão, Henry Maksoud dividia suas horas entre um leito do hospital Albert Einsten, em São Paulo, e a cama de seu quarto em uma mansão de 17 mil metros quadrados na Chácara Flora, bairro nobre na zona sul da cidade, onde vivia com a segunda mulher, Georgina Célia Bizerra. Com a morte do empresário aos 85 anos, na quinta-feira 17, deu-se início a um processo de disputa pela herança, estimada em R$ 500 milhões, acusações e conflitos que racharam de vez a família. De um lado, ficaram a mulher, Georgina, e o neto Henry Maksoud; de outro, os filhos Roberto, pai de Henry, e Cláudio.

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MEMÓRIA
O empresário Henry Maksoud e sua criação,
o hotel Maksoud Plaza, um ícone da capital paulista

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A briga teria começado muito antes da morte do patriarca. Em janeiro deste ano, os filhos pediram a interdição judicial do pai, sob o argumento de que o empresário apresentava sintomas de demência e não teria condições de administrar seus bens. De acordo com Roberto, as primeiras desconfianças surgiram em janeiro de 2013, quando ele ligou para o pai, de Orlando, nos Estados Unidos, onde vivia. “Georgina não queria me deixar falar com ele, mas insisti”, diz. “Quando conversamos, notei que ele estava esquecendo certas coisas”, diz. Do outro lado, Georgina e Henry negam que Maksoud tenha ficado senil por causa da idade. “Meu marido faleceu em razão de um grave câncer descoberto meses antes. Evidente que a sua saúde física não era a melhor. Mas a sua saúde mental permaneceu intacta até o dia de seu falecimento”, afirma a viúva.  Segundo Márcio Casado, advogado de Georgina, do neto e do próprio empresário, o requerimento de interdição foi rejeitado pelo Ministério Público por falta de provas. “Um homem como Maksoud não poderia ter sintomas de demência, ele tinha todas as condições de tomar as próprias decisões”, diz.

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BRIGA
Claudio Maksoud tentou interditar o pai no início do ano,
com o irmão Roberto, mas não conseguiu

Marcio Casado alega que os filhos estavam distantes do pai. Já o neto tinha uma proximidade natural, uma vez que trabalhava com o avô na direção do hotel. Roberto justifica que estava distante de Henry Maksoud porque, além de morar em outro país, era impedido de falar com ele. Com a morte do empresário, começa o processo da abertura do inventário. O presidente da Comissão de Direito de Família e Sucessões da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), Nelson Sussumu Shikicima, explica que, em casos de sucessão envolvendo grandes empresas, espera-se que o dono do patrimônio deixe um planejamento sucessório, que pode vir no formato de um testamento. “É comum que a pessoa se preocupe em documentar a quem será destinada a empresa e o restante dos bens”, diz. Shikicima observa ainda que os filhos são os herdeiros necessários e que a única maneira de não terem prioridade seria diante de um testamento. Casado não confirmou a existência ou não do documento. “Um testamento poderia modificar o rumo dos fatos, caso comprovasse a preferência de Maksoud pelo neto ou pela esposa, em vez dos filhos”, diz Shikicima.

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Com a abertura do inventário, o documento poderá ser apresentado e também impugnado pelos familiares. Para o advogado de Roberto, Luiz Roselli Neto, sócio do escritório Novaes e Roselli Advogados, é preciso comprovar sua legitimidade. “A mulher cerceava o direito de os filhos visitarem o pai e há denúncias de funcionários que testemunharam maus-tratos contra Maksoud na casa em que viviam”, diz. Os mesmos empregados afirmam que Georgina ministrava altas doses de tranquilizantes no marido. “Como uma pessoa enclausurada em um quarto, sob efeito de remédios, poderia assinar um documento confiável?”, questiona. Roberto rebate as afirmações de que estaria disputando a herança do pai. “Se estivesse brigando por dinheiro, não teria deixado de trabalhar no hotel por vontade própria há 15 anos”, diz. A denúncia de agressão contra Maksoud foi registrada no Ministério Público de São Paulo por uma antiga funcionária da casa da Chácara Flora e ouvida pelo promotor Delton Pastore em março deste ano. Georgina afirma que, uma semana antes do falecimento do marido, cinco viaturas da polícia militar e duas viaturas de resgate foram à sua casa. “Eles falaram que teria havido uma denúncia anônima de maus-tratos a um idoso”, diz. “Eles viram meu marido tomando café, cercado de enfermeiros e funcionários da casa. Os policiais pediram desculpas pelo incômodo e foram embora.” Após a morte do empresário, o caso foi arquivado. IstoÉ conversou por telefone com a ex-funcionária que registrou a queixa e ela confirmou as denúncias.

O próximo passo para o processo que corre em segredo de Justiça é a escolha da pessoa responsável pelo patrimônio de Henry Maksoud. “Normalmente, o inventariante é o cônjuge”, diz Shikicima, da OAB-SP. “Mas se houver testamento, a pessoa pode estar indicada no documento.” O advogado do empresário, Casado, afirma que a intenção de Maksoud era dar continuidade às empresas que fundou. “Ele tinha uma vontade e alguns herdeiros não se conformam com isso.” O neto Henry Maksoud diz que a intenção do avô sempre foi dar andamento a seus empreendimentos. “As pessoas envolvidas na sua sucessão deverão ter respeito por sua vontade declarada em vida”, afirma o rapaz, que diz ter um relacionamento cordial com o pai, Roberto, apesar de disputar a herança com ele. “Temos perfis muito diferentes profissionalmente.”

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RACHA
Acima, a viúva Georgina e o neto Henry, que ficaram ao
lado de Maksoud até sua morte. Abaixo o filho Roberto, pai de
Henry, que acusa a madrasta de dopar e maltratar o pai, para
ter controle sobre sua fortuna, estimada em R$ 500 milhões

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Henry Maksoud se divorciou da primeira mulher, Ilde, mãe de Roberto e Claudio, em 1979. Dois anos depois, teria assumido o relacionamento com a então manicure do hotel, Georgina. Em 2011, eles se casaram sob regime de separação total de bens. Segundo Shikicima, da OAB-SP, a viúva poderá entrar na Justiça com uma ação de reconhecimento de união estável e, dependendo do resultado, concorrer em iguais condições com os filhos.

Fotos: Bio Barreira/Ag. Istoé; Zanone Fraissat/Folhapress 


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