Na terça-feira 17 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encaminhou uma carta de solidariedade ao seu colega George W. Bush. Naquele momento, os Estados Unidos ainda juntavam os corpos das 32 pessoas barbaramente assassinadas em uma universidade da Virgínia. O drama sofrido pelos estudantes americanos, vítimas de um psicopata assustadoramente cruel, provocou indignação em todo o planeta. Certamente, não há quem não tenha se sensibilizado e, portanto, são absolutamente justificáveis as palavras solidárias de Lula a Bush. Aqui entre nós, porém, os assassinatos coletivos têm ocorrido diariamente, a qualquer hora, em qualquer lugar. No Rio de Janeiro já virou rotina a imagem de policiais recolhendo corpos e mais corpos no meio das ruas. Muitos são de pais de família vítimas de disputas entre traficantes ou dos confrontos entre policiais e bandidos. Na última semana, enquanto nossa perplexidade aumentava à medida em que a imprensa divulgava os detalhes do massacre na Virgínia, muitos cariocas ouviam o pipocar de tiros que vitimaram 28 pessoas. Não foram vítimas de um psicopata suicida. Foram, sim, vítimas de um dia-a-dia que estamos nos acostumando a tratar como “normal”. Em certas áreas do Rio de Janeiro, presenciar um cadáver no chão já é tão comum quanto tomar um copo d’água.
Às famílias das vítimas dos traficantes e da polícia fluminense não se cogitou o envio de nenhuma carta de solidariedade. E também isso não resolveria o problema. Mas, se os brasileiros não tomarem para si a responsabilidade de obrigar os governos a tratar a segurança pública com urgência e seriedade, estaremos caminhando para a construção de uma sociedade tão psicopata quanto o cruel assassino da Virgínia.