Vai ser difícil resistir à tentação de ficar em frente à televisão na sexta-feira à noite. Movido a cenas quentes de sexo, violência e conflitos éticos, o seriado “O Caçador” estreou na Rede Globo com o objetivo de atrair a esse horário ingrato um tipo de espectador propenso à fidelidade: os fãs de thrillers policiais. Para satisfazer esse público que tem garantido a audiência das séries americanas, roteiristas renomados do cinema nacional integram a equipe de autores, experiência que já rendeu bons resultados em projetos anteriores. Na sequência de “A Teia”, que registrou 18 pontos no Ibope em sua estreia, o novo seriado segue a receita de suspense e tensão psicológica. Seu protagonista é um caçador de recompensas e o ambiente em que transita é o submundo do crime, habitado por tipos que os roteiristas Marçal Aquino e Fernando Bonassi e o diretor José Alvarenga estão habituados a retratar. Os três estavam por trás do sucesso de “Força-Tarefa”, que mostrava o dia a dia de uma equipe da Corregedoria da Polícia Militar e garantiu média de 20 pontos no Ibope em sua primeira temporada. Agora, Alvarenga divide a direção com Heitor Dhalia e caberá ao galã Cauã Reymond a missão de viver o ex-policial André, preso injustamente e obrigado a se virar diante das portas fechadas em busca de emprego.

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NUDEZ
Cauã Reymond e Cleo Pires em cena quente:
ele diz que não é só sexo,ela acha natural

Para se distanciar da imagem do sedutor Leandro da minissérie “Amores Roubados”, exibida em janeiro, Cauã cobriu o torso com 14 tatuagens de mentira e fez um corte de cabelo mais comportado. Não conseguiu, claro. O galã do momento na tevê não consegue esconder o jogo, mas o seu personagem, André, é mais introspectivo e não tão conquistador como Leandro. “Eles são muito diferentes. O André é frio e solitário, busca companhia em garotas de programa”, diz o ator. Na preparação, Cauã fez aulas de tiro e um treinamento na Força Especial da Polícia Civil: “Brinquei um pouco de polícia e ladrão e dei a sorte de ter um instrutor que, como o meu personagem, vinha de uma família de militares.” A linhagem, contudo, não garante uma boa convivência. Logo no primeiro episódio, o caçador descobre que foi traído por seu pai, Saulo (Jackson Antunes), um policial aposentado muito respeitado. Após cumprir três anos de prisão, ele é relegado pela família e, sem construir laços afetivos, torna-se frio e desiludido.

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TRAMA ADULTA
Cauã Reymond (acima) vive um policial desencantado que se torna caçador
de recompensas e busca consolo em prostitutas como Marinalva, papel de
Nanda Costa (abaixo). Segundo o diretor José Alvarenga (abaixo),
o retrato desse universo precisa ser mostrado na tevê

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Diante da audiência média do horário, em torno de 12 pontos, a opção por um anti-herói é uma arma para fugir da mesmice com narrativas ficcionais pouco frequentes na televisão aberta. “Estamos entrando em um universo comum na dramaturgia estrangeira, em especial a americana, mas ainda pouco explorado no Brasil. Isso me interessa muito”, afirma Cauã. Segundo o diretor José Alvarenga, a emergência de tantos personagens com desvios morais e em busca de um sentido, como Doutor House, de “House”, e Mr. White, de “Breaking Bad”, tornou-se uma tendência atual. “Procuramos entender a nossa época. O mundo anda desestruturado e as pessoas se encontram vendo o desequilíbrio dos outros”, diz ele. À cata de bandidos e de pistas que provem sua inocência, André passará por maus – e bons – pedaços. Antes mesmo da estreia, já se comentava sobre suas cenas quentes com Cleo Pires. Ela interpreta Kátia, paixão de adolescência do protagonista e vítima de transtorno bipolar. A morena é a única que acredita no caráter do ex-policial e tem nele um porto seguro. Mas é casada: seu marido é o delegado Alexandre (Alejandro Claveaux), irmão de André, que não poupa esforços para prejudicá-lo.

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Apesar da promessa de ação e erotismo, Alvarenga garante que tanto a violência quanto as cenas de sexo evitarão os excessos espetaculares. “Não tem apelo pornográfico”, diz ele. Como a série vai ao ar depois das 11 da noite, o tom será adulto. “Faço essas cenas com tranquilidade, mas me preocupa pensar que as pessoas vão assistir só por isso. É um programa que engloba muitas coisas diferentes, como drama, ação, investigação”, diz Cauã. Cleo Pires, sua companheira em cenas de nudez, encara o assunto de forma mais leve: “Acho que tudo vale a pena quando você está dentro da personagem.” Nanda Costa, que interpreta Marinalva, uma ex-prostituta convertida à religião evangélica e única pessoa capaz de provar a inocência de André, também participará de passagens mais ousadas. “Dá tempo de assistir antes de sair para a balada”, estimula Cauã, que faz surpresa sobre o que prometem os 14 episódios do seriado, ainda sem uma segunda temporada programada.

Fotos: João Miguel Júnior e Estevam Avellar/Globo; Moacyr Lopes Junior/Folhapress; MURILLO CONSTANTINO/ISTOÉ Gente; Divulgação