Ligada a Paris por duas linhas de metrô, a cidade de Saint-Denis, na França, é mais conhecida no Brasil por abrigar o fatídico estádio de futebol onde a Seleção Brasileira perdeu para a francesa na final da Copa do Mundo de 1998. Agora, a mineira Silvia Capanema, 34 anos e grávida da primeira filha, quer colocar Saint-Denis no mapa da política brasileira. Militante desde 2011 da Frente de Esquerda, Silvia foi eleita vereadora em Saint-Denis, de apenas 107 mil habitantes, e de uma aglomeração de oito municípios, chamada de “Plaine Commune”, com um total de 450 mil moradores. Nos dois casos, vai exercer o cargo pelo Partido Comunista Francês. Na câmara, a brasileira deverá lidar, segundo diz, com questões cotidianas e urbanísticas de seu bairro e trabalhará pela inovação dos métodos de democracia participativa, além de lutar pelos direitos das mulheres e dos imigrantes. Silvia manterá sua carreira como professora da Universidade de Paris 13, já que a política não lhe oferece um salário, mas uma ajuda de custo de 228 euros para o cargo de vereadora simples (que trabalha em cidades entre 100 mil e 200 mil habitantes) e cerca de 900 euros para sua função no Plaine Commune, em parte repassados ao partido.

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IMIGRANTE
Filha de médica e de engenheiro, Silvia mudou para a França em 2002 e não voltou mais

Como os milhares de eleitores que desaprovam o presidente socialista François Hollande, Silvia é uma crítica contumaz do governo. “Hollande foi uma decepção muito grande”, diz. “Ele tinha um projeto de candidatura que questionava o capitalismo financeiro, mas fez justamente o contrário ao endossar a política de austeridade da União Europeia.” O resultado disso é que o agravamento da crise econômica, o alto desemprego e o desencantamento com a classe política têm impulsionado a direita. A Frente Nacional, partido de extrema direita, tornou-se o terceiro maior do país. “Esse avanço é preocupante, porque sua principal bandeira é contrária aos imigrantes”, afirma Silvia. “E, apesar de ter cidadania dupla há quatro anos, aqui sou brasileira.” Saint-Denis, onde a prefeitura é comandada por uma coalizão comunista desde 1945, se mantém como um foco de resistência da esquerda. Filha de médica e de engenheiro, Silvia mudou para a França em 2002 para fazer pós-graduação. Emendou mestrado e doutorado, casou com um urbanista franco-brasileiro e não voltou mais.

Fotos: Juan Mabromata/AFP


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