Nunca houve tão pouca água no Sistema Cantareira desde que esse complexo de nascentes, barragens e túneis comunicantes entrou em operação, no início dos anos 1960. Apenas 13,2% da capacidade total para o abastecimento de cerca de dez milhões de pessoas na Grande São Paulo existiam na semana passada. O resto foi consumido ou evaporou. O fundo de quilômetros quadrados de represas está em cacos de terra endurecida, como no sertão nordestino. O período de estiagem vai até setembro.

Isso significa que o risco iminente de racionamento de água, como acredita o presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Guillo, se instala agora e, uma vez concretizado, deverá acompanhar todo o período eleitoral até as urnas de outubro. Não será algo de alguns dias ou semanas, mas de meses ou para o restante do ano inteiro.

Para não naufragar nessa seca, por mais paradoxal que pareça, o governador Geraldo Alckmin terá de ser mais do que apenas um portador de boas notícias. Ele tentou, até aqui, tranquilizar a população e negar as evidências que apontam para o racionamento. Estimulou a redução do consumo por meio de diminuição nas tarifas de água e tentou executar planos alternativos. Mas dificilmente será mesmo possível escapar do corte nas torneiras, pois não se espera, na frente climática, que São Pedro ajude São Paulo. Não há chuvas em volume suficiente previstas no horizonte.

Os adversários de Alckmin fizeram carga sobre a estratégia do governador de evitar, a todo custo, dar uma má notícia aos paulistas. O ex-ministro Alexandre Padilha, o ex-prefeito Gilberto Kassab e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, cobram atitudes e informações do futuro concorrente oficial à reeleição. Até agora, ele não parece ter encontrado o discurso certo para enfrentar o caso.
Um bom começo para Alckmin seria, sem dúvida, admitir a iminência do racionamento.

Só assim a população poderá ser preparada para enfrentar, de maneira organizada, uma situação de escassez.
Quando acreditar que precisa dar uma notícia real para o público, o governador Alckmin terá dado o primeiro passo para sair do córner em que está entrando ao não admitir o que deve acontecer no futuro próximo – goste-se ou não. Até lá, ao insistir em trombar contra as evidências, Alckmin amplia um problema e, em consequência, o desgaste que pode atingi-lo na cena eleitoral. O melhor para ele seria furar essa bolha o quanto antes, sob pena de ficar preso entre suas paredes. 

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