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SALAS CHEIAS
Um número maior de pessoas tem acesso à escola e à universidade

Na era do conhecimento, não existe desenvolvimento sustentável sem educação. É o aprendizado, o avanço da escolaridade, que permitirá a ascensão, tanto do País quanto de cada cidadão. A economia brasileira se tornou uma estrela mundial, capaz de se recuperar rapidamente dos sustos financeiros que abalam outras nações. Nos últimos anos, a área econômica passou a ser pensada, não como bandeira de um determinado governo, mas como compromisso de Estado. Na educação, isso também vem acontecendo aos poucos. Devagar demais, dizem especialistas. Caso mudanças radicais não sejam implementadas, acelerando o processo educacional, a tão festejada prosperidade do País pode ficar fragilizada. Não basta ter dinheiro no bolso. É preciso garantir as bases do crescimento intelectual da população para o desenvolvimento econômico ser sólido e o progresso contínuo. Numa área negligenciada até o fim da década de 80, há grandes vitórias recentes. Uma das mais comemoradas é o adicional de R$ 10 bilhões no orçamento que o Ministério da Educação terá à disposição a partir do ano que vem. O dinheiro vem com o fim da DRU da educação (desvinculação de receitas da União, instrumento que permite ao governo aplicar como quiser 20% do orçamento), anunciada em novembro. A verba ajudará a ampliar a matrícula no ensino básico de crianças e jovens de 4 a 17 anos. Os índices de universalização e inclusão do ensino melhoraram em todos os níveis (leia quadro).

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Também os sistemas de avaliação se transformaram, desde 2005, numa referência positiva dentro da política educacional vigente, apesar dos recentes tropeços do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). São eles que definem indicadores daquilo que deve melhorar em cada etapa do aprendizado. “Não há no mundo sistema tão abrangente e robusto quanto o nosso”, disse à ISTOÉ o ministro da Educação, Fernando Haddad. Os exames são aplicados em diferentes momentos da vida escolar. A Provinha Brasil é destinada aos alunos do segundo ano do ensino fundamental da rede pública. A intenção é acompanhar e aprimorar a qualidade da alfabetização e do letramento inicial das crianças. A Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) aplicam testes no quinto e nono anos do ensino fundamental e no terceiro ano do ensino médio, também da rede pública. Os estudantes respondem a questões de língua portuguesa e matemática. O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) confere o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação aos conteúdos, habilidades e competências exigidos. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a porta de entrada para o ensino superior (principalmente nas federais). Neste ano, o MEC anunciou uma mudança estrutural no sistema, privilegiando ainda mais o raciocínio lógico no lugar da antiga e inútil decoreba. Mas a última edição, que era aguardada com muita expectativa, apresentou uma série de problemas – desde o roubo das provas, que adiou o exame em dois meses e prejudicou a agenda de vestibular de milhares de estudantes, até o conteúdo apresentado, passando, inclusive, pelo gabarito oficial errado. Além desses tropeços visíveis no sistema de avaliação, especialistas do setor encontram falhas na gestão da educação. A começar pelo número de jovens nos bancos escolares. “Não dá para ficar satisfeito com 13% das pessoas entre 18 e 24 anos cursando o ensino superior”, diz a educadora Sônia Penin, diretora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). “É pouco.” No Chile, 52% dos jovens são universitários. A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) previa para 2011 o ingresso de 30% dos jovens nessa faixa etária em faculdades. Não deve chegar lá. E isso porque, a cada 100 vagas no ensino superior brasileiro, 49 ficam ociosas. No caso das crianças, 60% ainda estão fora do ensino fundamental de nove anos, de acordo com o Educacenso, censo escolar divulgado em novembro, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

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A obrigatoriedade de inserir os pequenos já a partir dos 6 anos no convívio escolar (e aumentar as chances de aprender) deve ser cumprida até o ano que vem. “Os diagnósticos são feitos. Falta promover mudanças efetivas”, diz Paulo Renato de Souza, secretário estadual de Educação de São Paulo e ex-ministro da pasta. Foi na gestão dele que surgiram o Enem e o Provão (hoje Enade). O Censo da Educação Superior mostrou que o número de instituições caiu pela primeira vez em cinco anos. Não quer dizer que as faculdades ruins fecharam. Houve redução de 29 unidades no País graças a fusões ou aquisições. O ministro Haddad se defende. Afirma que, à frente do Ministério, já extinguiu 25 mil vagas de cursos de direito, 17 cursos de pedagogia e cancelou o processo seletivo de uma dezena de faculdades de medicina, só para citar algumas iniciativas. Nada é mais criticado, no entanto, do que a qualidade da educação. Mais pessoas nos bancos escolares não significa que mais pessoas estejam recebendo um bom ensino. A posição do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), promovido a cada três anos pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para medir o conhecimento de jovens de 14 e 15 anos, é das piores. No último resultado, de 2007, os alunos brasileiros obtiveram médias que os colocam, entre 57 países, na 53ª posição em matemática, na 48ª em leitura e na 52ª em ciências. Culpa da má formação dos professores e da desvalorização do magistério. O piso salarial de um professor é de R$ 950 desde o começo do ano. “Só os mais fracos vão para a licenciatura”, diz Mozart Neves Ramos, presidente-executivo da ONG Todos Pela Educação e membro do Conselho Nacional de Educação. Ex-reitorda Universidade Federal  de Pernambuco, ele compara as notas mínimas para ingresso em alguns dos cursos da instituição. Enquanto o direito exige 7,76, a licenciatura em biologia pede apenas 3,50. Em pedagogia, é possível ser aprovado com nota 4,74. O déficit de professores em licenciaturas chega a 250 mil profissionais. Em países como a Finlândia e a Coreia do Sul, os 20% melhores alunos disputam vagas concorridas para a carreira no magistério. Os salários iniciais são altos, cerca de R$ 4 mil, e podem dobrar em 20 anos.

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IMPERFEIÇÕES
A qualidade da educação no Brasil ainda deixa a desejar

“Temos que transformar a profissão em objeto de desejo”, diz Ramos. A gestão escolar também apresenta deficiência. “O que faz a diferença entre as boas escolas públicas e as ruins é a atuação do diretor”, afirma o secretário Paulo Renato. Há ainda um descolamento do que se ensina hoje em classe com a realidade da juventude. “São meninos que nasceram assistindo a efeitos especiais”, diz o senador Cristovam Buarque, também ex-ministro da Educação. “A escola do quadro negro e do ditado é chata para quem lida com celular, twitter e videogame.” A formação do professor precisa ser atualizada dentro de uma sociedade globalizada e tecnológica. Por isso, o mundo ideal é o das escolas em tempo integral, com infraestrutura, onde alunos e professores podem se dedicar ao aprendizado do raciocínio lógico e da interdisciplinaridade. Ainda não é possível saber quando alcançaremos esse estágio. O ministro Haddad garante que o governo tem planos consistentes para inverter o quadro desanimador do magistério. Entre eles, aumentar o piso salarial e expandir o número de vagas de licenciatura em universidades federais, assim como o Programa de Bolsa Institucional de Iniciação à Docência. O piloto aconteceu este ano e ofereceu três mil bolsas. Para 2010, estão previstas 20 mil. Ostentamos também taxas de analfabetismo, com quedas anuais. Hoje, 10% dos brasileiros não sabem ler e escrever, enquanto vizinhos latinos, como a Argentina, apresentam apenas 3% de analfabetismo. A Venezuela chegou à erradicação. “É um passivo herdado”, diz Haddad. A dificuldade é mobilizar os analfabetos devido ao perfil. Eles têm em média 55 anos e são moradores de cidades pequenas, geralmente do campo. A meta para a taxa de analfabetismo até 2015 é de 6,7%. O objetivo é essencial, porque a escolaridade dos pais reflete na dos filhos. Os jovens têm mais chance de progredir nos estudos quando os adultos de casa já passaram pela escola. Cerca de 70% dos brasileiros estão satisfeitos com a educação que seus filhos recebem, segundo levantamento da Todos Pela Educação. Para a maioria, se há vaga, livro, merenda e computador, a escola é boa. Como agora há tudo isso para quase todas as crianças e os adolescentes, os pais começam a exigir qualidade. Embora existam diversos problemas a serem sanados, o Brasil entrou numa rota que só tende a aprimorar o processo educacional. A sociedade amadureceu e entendeu que educação deve ser prioridade. É preciso, agora, dar continuidade às políticas públicas, independentemente de quem assumirá o próximo governo. Não bastará ser governante. Será necessário enxergar além, como um estadista. E em 20 anos, dizem os otimistas, desfrutaremos de um dos melhores sistemas de educação do planeta.

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