Da pintura histórica ao banner de rua; de Foucault a Godard. Citações à história da arte, publicidade, sociologia, filosofia e cinema estão canalizadas nas cenas que compõem os 14 metros de comprimento da pintura “Paintant Stories”, em exibição na Casa Daros, no Rio. “Quando comecei a trabalhar com pintura, nos anos 1990, ela estava em desuso. Me interessou trabalhar em meio a essa crise e propulsionar uma pintura que estabelecesse um nova relação com a guerra de imagens que acontece nessas esferas”, conta o artista à ISTOÉ.

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NOVAS MÍDIAS
"Paintant Stories",  de Marcaccio, envolve pintura digital
e processos artesanais à base de resinas

Realizada em 2001, envolvendo um complexo processo de digitalização de imagens somado a uma pintura densa à base de resinas e silicones, “Paintant Stories” foi uma das primeiras aquisições da coleção Daros Latinamerica, fundada em 2000 na Suíça. “Essa pintura foi concebida no começo do milênio, quando a internet entrava em cena, e traz com ela o entusiasmo explosivo que sentimos ao final do século cruel que passamos”, diz Marcaccio diante de imagens de guerra, sangue, violência, orquestradas em uma composição de grande impacto visual.

“A pintura sempre pediu um espaço de contemplação estática, mas gosto de contrariar isso e criar uma espécie de ‘pintura de ação comunal’, que não seja apenas um trabalho teórico, mental ou conceitual”, continua. “A arte conceitual produz questionamentos interessantes, mas deixa que o cinema de Hollywood e a propaganda de rua invadam tudo, e acaba perdendo essa guerra.”

O duelo que Marcaccio trava com o poder da imagem midiática marca o início de uma temporada de pintura na Casa Daros. Entre abril e agosto, a coleção suíça traz à sua sede no Rio obras recentes de Luiz Zerbini, Guillermo Kuitca, Eduardo Berliner, Vânia Mignone e René Francisco, a fim de expor a amplitude da pintura contemporânea. “Quero mostrar facetas bem diferentes do mundo das artes latino-americanas e sempre surpreender o público com coisas nunca vistas antes”, diz o curador Hans-Michael Herzog, que inaugurou a Casa Daros em março de 2013 com obras de artistas colombianos nunca antes exibidos no Brasil. “Marcaccio traz uma obra em pintura sem paralelo na história da arte e no presente. É a pintura do século XXI.” 

Foto: Augusto Gomes