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O futebol é uma das poucas saídas para que eles consigam levar a vida com um sorriso no rosto. Os jogadores africanos correm atrás da bola para chutar para longe a miséria que marcou suas infâncias. Alguns conseguem, viram a vida de ponta-cabeça, tornam-se celebridades e enriquecem. Em 2010, a Copa do Mundo assistirá a um desfile de histórias como essas. O maior evento esportivo do mundo, que estreia em continente africano, terá, pela primeira vez, seis seleções de lá: Gana, Costa do Marfim, África do Sul, o país-sede, Camarões, Nigéria e Argélia. Em campo estarão verdadeiras joias, como o ganês Michael Essien, 27 anos, o jogador africano mais caro do mundo – vendido ao Chelsea, da Inglaterra, por R$ 109 milhões –, e o marfinense Didier Drogba, 31, a 20ª maior transação da história do futebol, que custou ao mesmo clube R$ 92 milhões.

Cabe, porém, ao camaronês Samuel Eto’o o título de atleta embaixador da Copa. Imagens do atacante, que aos 16 anos deixou a cidade de Douala, às margens do Golfo da Guiné, para jogar no poderoso Real Madrid, na Espanha, estampam outdoors por todos os lados. Aos 28 anos, ele é o mais bem-sucedido africano a pisar nos gramados. Foi campeão espanhol, europeu e mundial pelo Barcelona. Defendendo a seleção, conquistou o ouro na Olimpíada de 2000 e duas vezes a Copa Africana das Nações, da qual é o maior artilheiro da história.

VALEM QUANTO JOGAM
Algumas das maiores transações de talentos africanos

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Eto’o, hoje na Inter de Milão, assim como Drogba, é a personificação do futebol africano, cheio de irreverência, ofensividade, comemorações exóticas e muita festa para a arquibancada. “O contato íntimo promovido pela globalização levou à África diversos modelos de futebol”, opina o professor emérito da Universidade de São Paulo e da pós-graduação da universidade presbiteriana Mackenzie João Baptista Borges Pereira, estudioso da antropologia desse esporte. A contrapartida do fenômeno é a proliferação de africanos em grandes ligas europeias. Somente na França, há atualmente 80 atletas profissionais do Senegal. Em 2008, dos 368 jogadores que disputaram a Copa da África, 56,5% atuavam na Europa.

“A vitória deles (jogadores) mostra que a África, além de dona do próprio destino, passou a ser valorizada”
Kouame Kouakou Michel, secretário da Associação dos Marfinenses no Brasil

“A vitória deles (jogadores) mostra que a África, além de dona do próprio destino, passou a ser valorizada. Hoje, todos os times europeus têm e ostentam seus africanos como troféus”, diz o tradutor e intérprete Kouame Kouakou Michel, secretário da Associação dos Marfinenses no Brasil (AIB). Foi uma aculturação futebolística que desenhou esse quadro. Para o sociólogo Túlio Velho Barreto, vice-coordenador do núcleo de sociologia do futebol da Fundação Joaquim Nabuco e da Universidade Federal de Pernambuco, os africanos conseguiram construir uma identidade singular, fruto de um cruzamento do futebol importado dos colonizadores e da assunção da negritude. “Eles vivem o seu ápice”, diz. Um dado para reforçar: na lista dos 50 maiores salários do futebol mundial figuram três jogadores africanos, enquanto o Brasil, a maior potência desse esporte, está representada por cinco atletas. Eles estão perto da gente – a Seleção Brasileira enfrenta a Costa do Marfim de Didier Drogba e companhia na primeira fase: olho neles!

Seleções promissoras

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A primeira seleção africana a participar de uma Copa foi o Egito, em 1934. Mas foram o atacante Roger Milla, então com 38 anos, e seus companheiros da seleção de Camarões (primeira foto à dir.) que surpreenderam o mundo na Copa de 1990. Depois de vencerem a então campeã Argentina no jogo de abertura, só deixaram a competição nas quartas-de-final, derrotados pelos ingleses. Apenas um outro time africano chegou a essa fase: Senegal, em 2002, que ganhou da poderosa França e caiu diante da Turquia. São as duas melhores campanhas da história do futebol africano. Em 2010, Costa do Marfim é apontada como a mais promissora, com um time recheado de estrelas como Drogba e Kalou, ambos do Chelsea, Eboué, do Arsenal, e os irmãos Kolo e Yaya Touré, do Manchester City e Barcelona, respectivamente.

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