ANTÔNIO DIAS – POTÊNCIA DA PINTURA/ Instituto Iberê Camargo, Porto Alegre/ até 18/5

No ano do golpe militar, o paraibano Antônio Dias era um jovem artista de 20 anos, que havia estudado gravura sob orientação do grande artista modernista Oswaldo Goeldi e realizava sua segunda exposição individual em uma galeria do Rio de Janeiro. Dias buscava então produzir uma arte não só observadora, mas participante da realidade brasileira e, nos anos que se seguiram, foi reconhecido por seus pares, como o carioca Hélio Oiticica, como agente estratégico no confronto da arte com a ditadura. É pelo contexto do início de sua atuação artística que Dias já foi considerado pelo crítico Paulo Herkenhoff como um elo entre três gerações fundamentais da arte brasileira: o modernismo, o neoconcretismo e os artistas dos anos 1970. Essa qualidade condutora entre a experiência estética e a vida sociopolítica está presente deste então, em mais de cinco décadas de trabalho de Dias. E se reflete diretamente nas 28 obras recentes do artista, realizadas entre 1999 e 2011, reunidas na exposição “Antônio Dias – Potência da Pintura”, no Instituto Iberê Camargo, em Porto Alegre.

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Em "Língua Franca", de 2010, a pintura é realizada a partir da reação dos materiais sobre a tela

Para o crítico Paulo Sérgio Duarte, que assina a curadoria da exposição, a obra de Dias manifesta um permanente estado de tensão – talvez como resultado dos sucessivos engajamentos de toda uma vida: “Tem atritos, conflita entre si, essa briga interna entre planos específicos – os vermelhos, por exemplo, que eclodem da sua verdade, evidente, e as superfícies ambíguas, que flutuam, nos cobres, dourados e verdes de malaquite”, afirma Duarte.

Os atritos entre cores e matérias, a que se refere Duarte, podem ser contemplados nas grandes e inebriantes pinturas modulares dos anos 2000, compostas com matérias “de peso”, como folha de ouro e cobre, e óxido de ferro, trabalhadas com tinta acrílica. Dessa diversidade de materiais, o trabalho de Dias também guarda forte conexão com uma linhagem alquimista da arte brasileira. Já seu inegável e inseparável engajamento político está manifesto, por exemplo, em “Duas Torres” (2002), que faz um comentário sobre o 11 de setembro de 2001, com latas de alimentos fundidas em bronze. Com alguns objetos e instalações entre 24 pinturas, a exposição afirma como o projeto pictórico de Antônio Dias é determinante em sua atitude política.

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ATRITO
"Fornalha", pintura de 2006 com folha de ouro e cobre e acrílico sobre tela,
expressa tensão entre partes

Fotos: Sergio Guerini e Paulo Scheuenstuhl; Cortesia ArtEEdições galeria e White Cuge Gallery