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Acompanhe a entrevista com o neurologista Ivan Okamoto, que explica a técnica

Um dos grandes problemas no enfrentamento da doença de Alzheimer é a dificuldade para fechar o diagnóstico. Para se ter ideia, estima-se que um milhão de pessoas tenham a doença no País, mas apenas 150 mil usam os remédios distribuídos pela rede pública. Em geral, quando isso ocorre, a enfermidade já avançou muito e as medicações que tratam seus sintomas não produzem seus melhores efeitos. Por isso, uma das frentes de batalha da ciência é descobrir exames que revelem quais são os indivíduos com maiores chances de apresentar a enfermidade para que eles sejam acompanhados mais de perto. O último e mais importante passo da medicina nessa direção foi anunciado por pesquisadores dos Estados Unidos. Pela primeira vez, os cientistas encontraram um conjunto de substâncias cujos níveis permitem definir o risco de ter a enfermidade bem antes que ela apresente seus sintomas. O trabalho foi publicado pela renomada revista científica “Nature”.

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MARCADORES
O teste capta a concentração de dez substâncias.
Se for baixa, confirma-se a predisposição

Os testes foram feitos com 525 idosos saudáveis, com mais de 70 anos. Após cinco anos de acompanhamento, 74 deles desenvolveram sintomas associados à doença, confirmada em 28 voluntários no final do experimento. Ao longo da investigação, os cientistas encontraram diversos lipídios (gorduras) presentes na membrana que envolve as células nervosas e que estariam associados aos processos que deflagram a doença. “No estudo, pessoas com níveis reduzidos desses lipídios se mostraram mais vulneráveis a manifestar o comprometimento de funções como o raciocínio ou a desenvolver Alzheimer”, disse à ISTOÉ o neurologista Mark Mapstone, professor do centro médico da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos.

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RETRATO
Okamoto, do Albert Einstein, testará exame de
imagem que detecta o início da enfermidade

A análise dos níveis desse conjunto de substâncias, de acordo com os autores, oferece resultados com acurácia superior a 90% capaz de revelar indivíduos em risco de ter um transtorno cognitivo com potencial para afetar a memória ou apresentar Alzheimer em dois ou três anos. É a primeira vez que a ciência consegue encontrar marcadores com tamanha taxa de eficiência para predizer o risco de ter a doença em três anos. “O mecanismo que leva ao Alzheimer pode começar muitos anos antes que a doença seja diagnosticada por seus sintomas. Descobrimos que esse processo pode ser observado no sangue e enquanto está em seu estágio silencioso”, afirmou Mapstone.

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O achado está sendo bem recebido pela comunidade científica. “É um estudo interessante que merece ser aprofundado para confirmar suas possibilidades”, diz o neurologista Ivan Okamoto, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, considerado um dos melhores na pesquisa e no tratamento do Alzheimer no Brasil. “A grande utilização dos biomarcadores será diagnosticar o risco aumentado. Dessa forma, pode-se entrar com tratamento para retardar a evolução da doença”, afirma o médico Aurélio Dutra, assessor em neurologia do Fleury Medicina Diagnóstica. Há outra novidade na área. Até o fim do ano, médicos do Albert Einstein testarão um exame de imagem mais sofisticado, com uma nova substância radioativa, para detectar o depósito da proteína beta-amiloide sobre os neurônios, processo que está na origem da enfermidade.

Fotos: Rogerio Albuquerque; Masao Goto Filho /Ag. IstoÉ