Há um sentimento de urgência que permeia toda a exposição “Primeiro Estudo: Sobre Amor”, em cartaz na Luciana Caravello Arte Contemporânea, no Rio. Distribuídos nos três andares da galeria, 31 trabalhos de 23 artistas recebem o visitante como se fossem declarações, dedicatórias ou confidências, que abraçam todo um universo de emoções e instâncias relacionadas ao amor.

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Em um dos trabalhos mais contundentes da exposição, o artista gaúcho Vitor Butkus reúne em uma publicação as últimas palavras escritas em vida por filósofos e escritores. O título da obra, “Malogramos Sempre ao Falar do que Amamos”, é a última frase escrita por Roland Barthes, o autor do célebre “Fragmentos de Um Discurso Amoroso”, inegável referência da exposição.

Dada a centralidade do discurso de Barthes na curadoria de Bernardo Mosqueira, não é simplista afirmar que cada obra se comporta, afinal, como um fragmento do texto curatorial. No discurso de Mosqueira nem todos os trabalhos falam diretamente sobre o amor, mas abordam questões como troca, encontro, violência, família, repressão, comunicação ou amparo. Essa é também a estrutura do livro de Barthes, que organiza seus fragmentos e citações a partir de palavras como abismar-se, abraço, adorável, etc.

No primeiro andar da galeria, Mosqueira aproxima obras que, em geral, são compostas por simetrias. No segundo andar, organizam-se aquelas que esbarram no tema da repressão. “E o terceiro andar apresenta os trabalhos que tratam do esquecimento, da superação, da rotatividade do amor, de tudo o que está além da repressão”, explica Mosqueira. Entre as obras desse território libertador estão o vídeo “Prelúdio de uma Morte Anunciada” (1991), último trabalho feito por Rafael França antes de falecer, vítima de Aids, e a fotografia sem título de Marcos Chaves (foto), que mostra um hidrante coberto pela sacola do supermercado Zona Sul, cujo logotipo é um coração. O trabalho é mais uma citação indireta de Barthes, que afirma no livro que o coração é “um órgão erétil”.

Foto: Marcos Chaves