Vazios. Assim estavam os envelopes da licitação para a construção da nova Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), abertos na última segunda-feira. Nenhuma empresa se interessou em erguer a base científica de ponta que substituirá a antiga instalação brasileira no continente gelado, completamente destruída por um incêndio que matou dois militares da Marinha no dia 25 de fevereiro de 2012. Agora, o temor é de que a conclusão do projeto, já estendido para o primeiro semestre de 2016, possa atrasar ainda mais. “Precisamos entender por que não houve interessados e, a partir disso, iniciar um novo processo de licitação, provavelmente voltado a empresas estrangeiras”, disse à ISTOÉ o contra-almirante Marcos Silva Rodrigues, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar e coordenador do Programa Antártico Brasileiro (Proantar).

Segundo a Marinha, não é possível fazer um diagnóstico prévio sobre as razões para o fracasso da primeira licitação, estimada em R$ 145 milhões. Nos bastidores, entretanto, especula-se que a desvalorização do real diante das moedas estrangeiras tenha espantado as empresas, que considerariam a empreitada pouco vantajosa financeiramente. “O valor estimado foi cotado pelo escritório de arquitetura responsável pelo projeto, item por item, para cada elemento da estação, e já considerando o lucro do empreendedor”, afirma o contra-almirante Rodrigues.

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Quando (e se) finalizada, a nova Estação Antártica Comandante Ferraz deverá ser uma das mais modernas da região. Com capacidade para 64 pessoas, incluindo 15 militares que permanecem no local por pelo menos um ano, ela terá 18 laboratórios para pesquisa científica, contra 8 da antiga base (confira infográfico). Além de servir como casa dos estudiosos do clima, da geologia e da biologia da região, o local funcionará como uma espécie de embaixada informal dos interesses brasileiros no continente. “Só pode estar lá quem desenvolve pesquisa, e isso é a base para que o Brasil seja um dos 29 países membros consultivos do Tratado da Antártica, que em 2048 vai decidir o futuro da região”, diz Rodrigues.

Hoje, o País possui uma base provisória abrigada nos chamados Módulos Antárticos Emergenciais (MAEs), montados no início de 2013 sobre o heliporto da antiga estação. Ela é composta por seis dormitórios, escritório, laboratório, enfermaria e cozinha.

A boa notícia é que, após o incêndio de 2012, a pesquisa brasileira na região foi pouco ou nada afetada. Quem afirma isso são os próprios cientistas, que elogiam a qualidade dos equipamentos e a estrutura oferecida pelos navios Almirante Maximiliano e Ary Rongel, da Marinha, enviados à Antártica. Além disso, parte das pesquisas é desenvolvida no coração do continente, milhares de quilômetros ao sul da base, em módulos temporários. “Há um mito de que o programa antártico brasileiro é só a estação Comandante Ferraz”, diz Jefferson Simões, coordenador-geral do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Hoje, a principal plataforma de pesquisa brasileira está no navio polar da Marinha, o Almirante Maximiliano.”

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