Na terça-feira 25, em sessão solene no Senado, os tucanos comemoraram 20 anos do Plano Real, o conjunto de medidas coordenado por Fernando Henrique Cardoso responsável pelo fim da inflação e pela estabilidade econômica do País. Mais do que uma efeméride, a solenidade apontou os caminhos que o PSDB pretende trilhar na campanha eleitoral que se aproxima e, ao contrário do que fizeram em 2002, 2006 e 2010, agora os tucanos não irão esconder o ex-presidente FHC. Aos 82 anos, ele estará na linha de frente da candidatura de Aécio Neves e a defesa de seus oito anos de mandato será um dos mantras eleitorais. Assim, depois de 20 anos, o Real tem tudo para voltar à agenda político eleitoral. “Se já realizamos a transformação uma vez, quando tudo parecia impossível, será possível fazer isso de novo em favor do povo brasileiro”, disse o presidenciável Aécio Neves referindo-se à implantação da moeda que estabilizou a economia brasileira. “Precisamos de um novo choque de confiança e de esperança, como aquele que o Real produziu 20 anos atrás.”

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FHC e Aécio afirmam que o Brasil precisa de um choque de confiança
e tentam resgatar eleitoralmente o sucesso do Plano Real

As declarações de Aécio mostram que durante a campanha eleitoral a política econômica será o principal alvo das críticas do PSDB. E, para apresentar alternativas à gestão de Dilma Rousseff, o tucano tem ouvido os principais formuladores do Plano Real. Em seu discurso, o ex-presidente FHC lembrou que em 1994 Lula e os petistas se posicionaram contra o plano econômico responsável por finalizar uma inflação que beirava os 40% ao mês. “Hoje, muitos que condenavam o plano admitem que o Real foi fundamental para o desenvolvimento do País, inclusive para o sucesso dos dois governos de Lula”, afirmou o ex-presidente. Fernando Henrique também lembrou que na época da implantação do Real havia enorme desconfiança em relação à política econômica do Brasil, uma relativa falta de interlocução do governo com as classes produtivas e uma dívida externa ameaçadora. “Claro que a inflação atual está muito distante do que era em 1993, mas as demais condições macroeconômicas são muito similares e isso precisa ser dito aos eleitores”, revela um dos economistas presentes na festa do Real. “Vamos sinalizar um novo rumo para o País”, afirma FHC. “Perdemos o momento da fartura de capitais. Perdemos o momento em que os olhos estavam voltados para o Brasil, o que não quer dizer que amanhã não possamos recuperar isso. Eu sou muito confiante no Brasil. Não sou derrotista”, completou o ex-presidente.

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O evento também deixou claro que o PSDB pretende usar a questão econômica para discutir temas sociais. Na agenda dos economistas do PSDB está, por exemplo, a prioridade de um projeto de parceria com o setor privado para superar gargalos relativos à segurança pública e à mobilidade urbana. “Já superamos questões mais complexas e temos competência para avançar”, disse Aécio. “O País precisa de um choque de esperança e de confiança.” Para o senador mineiro e presidenciável pelo maior partido de oposição, “ao tirar das costas do trabalhador o imposto inflacionário, o Real se transformou no maior programa de distribuição de renda do Brasil”.

Ao usarem a estratégia de resgatar o legado de FHC, os tucanos evitam erros que marcaram as três últimas campanhas presidenciais. O problema, segundo cientistas políticos, é saber se não passou tempo demais para informar ao eleitor a grandeza do Plano Real. Cerca de 54% dos eleitores brasileiros têm menos de 28 anos de idade. Ou seja, tinham no máximo oito anos quando o Real consertou o Brasil. Para esses, a exaltação aos eventos de 1994 pode parecer completamente alheia às demandas contemporâneas. A estratégia poderá ficar comprometida caso, às vésperas da eleição, a situação econômica do País não ofereça riscos.

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No Planalto, porém, o recado enviado pelos tucanos trouxe alguma preocupação. Para o PT, melhor seria que o PSDB continuasse na estratégia de esconder Fernando Henrique. Como primeira reação, o PT tratou de procurar minimizar a ideia de ser carimbado como o partido que tentou barrar o Real, embora tenha de fato votado contra a aplicação do plano em 1994. Na mesma terça-feira 25, a ex-ministra Gleise Hoffman ocupou a tribuna do Senado para rebater FHC. “Foi o presidente Lula que resgatou o Plano Real, que sofreu um desvio no meio do caminho”, afirmou a senadora do PT, referindo-se à desvalorização que a moeda sofreu em 1999, logo depois da reeleição de FHC.