Vinícius Romão tem 26 anos, acabou de se formar em psicologia, trabalha em uma loja de roupas e também é ator. Apaixonado pelo Flamengo, é aficionado por hip-hop e muito vaidoso. Seria um jovem como tantos outros, não fosse por um detalhe: Romão é negro e muitos acreditam que foi a cor da sua pele que o levou a protagonizar um triste episódio. Ele passou 16 dias preso na Casa de Detenção Patrícia Acioli, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, acusado de um crime que não cometeu. Faltou rigor na apuração da Polícia Civil e do Ministério Público quando a copeira Dalva Santos apontou o ator como o ladrão que, na noite da segunda-feira 10, havia levado sua bolsa, na zona norte. Somente na quarta-feira 26 ele foi solto, depois que Dalva reconheceu o erro. “Minha vida começou de novo. Aprendi a aproveitar cada minuto, a dar valor até mesmo ao ato de pegar uma garrafa d’água na geladeira”, disse à ISTOÉ, explicando que no cárcere não se bebe água na hora da sede, mas sim quando é possível.

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LIBERDADE
Vinícius Romão, na quarta-feira 26, ao sair da Casa de Detenção Patrícia Acioli,
em São Gonçalo: "Minha vida começou de novo"

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O caso será analisado pela Corregedoria Interna da Polícia Civil, que vai avaliar a conduta do policial Waldemiro Junior, lotado na 11ª DP (Rocinha), que abordou e prendeu o jovem de forma violenta. “A dedução de que a pessoa é criminosa por causa da cor e a presunção de que o negro é pobre e, portanto, terá dificuldades em acionar seus direitos pode levar o policial a ser mais autoritário e truculento”, afirma o antropólogo Fabiano Monteiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Se ele fosse branco, já estaria respondendo em liberdade”, diz a amiga do ator Lícia Martins. Jair Romão, tenente-coronel da reserva do Exército e pai do jovem, diz que a prisão se deu por “incompetência  da polícia carioca”. Abatido, mais magro, e sem os cabelos ao estilo black-power, já que rasparam sua cabeça na cadeia, o rapaz contou que foi questionado, ao chegar à prisão, sobre qual facção criminosa pertencia. 

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"Era desumano. As condições de higiene são muito precárias"
Vinícius Romão (acima, em novela da Globo), sobre as condições da prisão

Apesar de se declarar neutro, foi colocado em uma cela com 14 presos, muitos acusados por tráfico de drogas. Sem espaço nos três beliches de concreto e sem colchão, dormiu sobre caixas de papelão. “Era desumano. As condições de higiene são muito precárias.” Romão nasceu no Rio Grande do Sul e veio para o Rio ainda criança. Ele perdeu um irmão aos 10 anos, de leucemia, e a mãe, vítima de um acidente vascular cerebral fulminante, aos 20. Durante o curso de psicologia, estagiou no Instituto Médico Legal, onde ajudava a apoiar parentes que iam reconhecer vítimas. Agora, espera que seu caso sirva de exemplo e deve processar os responsáveis.

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Colaboraram Fabíola Perez e Wilson Aquino
 


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