O Tinder, aplicativo de paquera para smartphone, está revolucionando a arte de seduzir. A popularidade da ferramenta no País aumentou vertiginosamente desde seu lançamento aqui, em agosto do ano passado. “O Brasil cresceu muito rápido em comparação a outros lugares e se tornou o terceiro maior mercado do Tinder, atrás dos Estados Unidos e do Reino Unido”, afirma Justin Mateen, cofundador do aplicativo, à ISTOÉ. Hoje, já são dez milhões de brasileiros conectados. E, em uma época tão propícia para encontros casuais como o Carnaval, esse número deve aumentar ainda mais.

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PAQUERA
Da esq. para a dir.: os amigos Diogo Sampaio, Marcos Paulo,
André Sampaio e Taíssa Macedo usam o Tinder juntos

A lógica do aplicativo é simples. Uma série de fotos de pretendentes geograficamente próximos começam a ser apresentadas ao usuário. Gostou de alguém? Toque na tecla com o desenho de um coração. Se a pessoa também te achar interessante, dá “match” (palavra em inglês que significa combinação e jogo). A partir daí, o aplicativo abre uma janela de bate-papo. Quando os dois veem que há futuro na conversa, migram para o WhatsApp ou o Facebook. No Tinder aparecem até seis fotos, três linhas de autodescrição, o primeiro nome e a idade.

Simplicidade e superficialidade marcam uma mudança de comportamento quando se trata de paquera virtual. Para a pesquisadora em Antropologia e Cibercultura da Universidade Federal Fluminense (UFF), Márcia Mesquita, o trunfo do Tinder é justamente seu ar informal. “O tom de brincadeira deixa tudo mais leve. Não há responsabilidade de conhecer o amor da sua vida. Além disso, mais pessoas estão buscando relacionamentos casuais. E ninguém tem vergonha de usar, porque o aplicativo não traz o estigma da solidão dos sites no início da internet”, afirma. Na opnião de Fábio Steibel, professor de Inovações e Novas Tecnologias da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro (ESPM/Rio), o usuário do app é de uma geração que se relaciona mais livremente com sua sexualidade e usa a tecnologia para se expressar e conhecer gente nova.

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PAIXÃO
Bruno Bernardo e Patrícia Oliveira (acima) começaram a namorar pelo Tinder.
Abaixo, Rafael Freitas e Renata Martins, que marcaram casamento para maio

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Em Brasília, o estudante de administração Marcos Paulo Puig, 23 anos, descobriu o aplicativo com amigos. “Éramos um grupo de cinco pessoas e um dos rapazes estava todo animado com suas quatro novas combinações em apenas um dia de uso. Todos baixaram na mesma hora e começamos a checar as garotas que apareciam por lá”, diz ele, que já saiu com algumas mulheres que conheceu pelo app. A reportagem testou o Tinder durante um mês de escolhas criteriosas. Chegou a 46 “matches”, mas só uma conversa fluiu. A troca de mensagens costuma começar com “oi”. Como na vida real, é difícil surgir afinidade, mas, quando acontece, o papo desenvolve. Para a paulistana Tati Paixão, 32 anos, as pessoas ainda estão aprendendo a usar o app. “Muitos ficam sem jeito de chamar para sair”, diz. Ela conta que conheceu três rapazes desde janeiro. Sua grande aposta é o Carnaval. “Estou marcando encontros nos blocos de São Paulo”, diz. No Rio, o Tinder fará uma ação durante a folia, distribuindo adesivos com os símbolos de coração, que significa “Liked” (gostei, em português), e de “x”, que significa “Nope” (não).

Apesar da falta de crédito que os relacionamentos que começam no ambiente virtual costumam sofrer, os vários casais que têm se formado provam que existe amor no Tinder. A gerente de recursos humanos Renata Martins, 32 anos, e o advogado Rafael Freitas, 30 anos, se encontraram no app em setembro e em dezembro já estavam morando juntos. O casamento está marcado para o dia 17 de maio. “No início, as pessoas se assustaram com a rapidez com que tudo aconteceu. Mas depois viram que nascemos um para o outro”, diz Renata. Após a experiência, Rafael virou um defensor do aplicativo. “Fiz minha tia de 49 anos entrar para arrumar um namorado”, brinca.

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A desenhista têxtil Patrícia de Araújo Oliveira, 27 anos, também conheceu o atual namorado no Tinder, mas confessa que no começo tinha receio. “Não levava a sério nem achava que ia começar algo por ali. E tinha medo de encontrar pessoas. Mas com o Bruno foi dando certo”, diz, referindo-se ao namorado, o webdesigner Bruno Nunes Bernardo, 25 anos. “Acho que somos de uma geração que já cresceu com a internet. Conhecer alguém por um aplicativo não é mais estranho. Na verdade, ficou até mais fácil”, afirma Bruno. Em tempo: 46 “matches” depois, a reportagem marcou seu primeiro encontro ao vivo para o Carnaval. 

Fotos: Adriano Machado/Ag. Istoé; Gabriel Chiarastelli; João Castellano/Ag. Istoé