Em setembro do ano passado, o desertor da CIA Edward Snowden revelou um esquema de espionagem que chegou ao gabinete da presidenta Dilma Rousseff. Segundo documentos obtidos por Snowden, até mensagens do celular de Dilma foram monitoradas pelos americanos. Depois da revelação do caso, a presidenta fez duras críticas ao governo de Barack Obama. E tudo indicava que o Brasil nada poderia fazer a não ser reclamar. Na semana passada, porém, Dilma demonstrou que não tinha deixado a história para trás. Ela dedicou parte de sua visita a Bruxelas, na Bélgica, para confirmar o interesse do governo brasileiro na construção de um cabo submarino de comunicação ligando Fortaleza a Lisboa. Mais do que buscar apoio para o investimento, orçado em US$ 185 milhões (ou cerca de R$ 462 milhões), Dilma disse que seu governo busca soluções para reduzir o alto nível de dependência do sistema brasileiro de transmissão de dados em relação aos Estados Unidos. Dos cinco cabos submarinos que ligam atualmente o País ao Exterior, quatro passam pelo sistema americano e apenas um, que serve apenas para transmissão de voz e está com capacidade saturada, passa pela Europa. Ao se tornar menos dependente da tecnologia americana, o Brasil ficaria menos exposto a ações de espionagem.

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DEPENDÊNCIA
Dilma em Bruxelas e o presidente Obama: dos cinco cabos submarinos
que ligam o País ao Exterior, quatro passam pelo sistema americano

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A confirmação de Dilma ocorre num momento em que o projeto encontra-se em estágio relativamente avançado. No início do ano, a Telebrás aprovou a proposta de criação da empresa JVCo (Joint-Venture Company), que será composta pela própria estatal, que terá 35%, pela espanhola IslaLink Submarine Cables, com 45%, e por 20% de investimentos de empresas privadas brasileiras que ainda negociam com o governo. A previsão é que o novo cabo esteja em operação depois de 18 meses de trabalhos. Serão instalados seis mil quilômetros de cabos a um custo estimado de R$ 77 mil por quilômetro. A Telebrás adquiriu um terreno em Fortaleza, onde vai funcionar o ponto de aterragem do cabo. É da capital cearense que vão partir 25 mil quilômetros de rede de fibra óptica para distribuir os serviços nas diversas regiões brasileiras.

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A Telebrás acredita que, em função do investimento, o Brasil poderá desfrutar de uma qualidade melhor na transmissão dos dados e do barateamento em cerca de 15% dos serviços. A maioria dos especialistas em telecomunicações concorda que o sistema de cabos submarinos funciona melhor do que a comunicação via satélite, em especial depois que a indústria aprendeu a construir cabos capazes de resistir, por décadas, às variações oceânicas. Para além dos benefícios imediatos que o investimento possa produzir, a mensagem da presidenta brasileira tem um caráter político, que é sublinhar uma reação em defesa da soberania do País. Para Dilma, conta a favor do Brasil o fato de a União Europeia concordar sobre a necessidade de criar canais alternativos capazes de proteger o espaço cibernético e a privacidade das nações. Um consenso fundamental para fazer o projeto da Telebrás sair do papel.  

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Fotos: Francois Lenoir, Kevin Lamarque – REUTERS


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