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Mandar imagens do corpo humano pela internet ou participar de cirurgias à distância não é novidade. Diversos hospitais brasileiros de alto padrão estão investindo nesse tipo de recurso, a telemedicina. O Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, por exemplo, usa a técnica para se manter conectado ao Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, instituição americana de excelência médica. Mas ainda existem muitas aplicações da internet, até mais simples, a serem exploradas. Uma delas é a utilização da tecnologia da informação para facilitar algumas atividades de rotina, como a troca de e-mails entre médicos, com resultados de exames, para que os profissionais possam discutir o diagnóstico.

Na semana passada, o Hospital do Coração, de São Paulo, lançou um sistema de gerenciamento de imagens e informações, o Pacs. A instituição disponibilizará o prontuário médico – totalmente digitalizado – do paciente por uma rede ligada à internet e pelo correio eletrônico. Assim, os exames são facilmente consultados, inclusive por outros médicos, viabilizando a troca de opiniões. “O Pacs é um grande banco de dados que dá acesso a todas as modalidades de imagens. Por meio dele, é possível fazer estudos comparativos”, diz o radiologista Xavier Stump, responsável pelo setor de imagens do hospital.

O correio eletrônico também atraiu o radiologista Aron Belfer, de São Paulo. Ele desenvolveu um programa de computador que permite trocar imagens por e-mail, com direito a anotações e a clareza de uma videoconferência. “O médico pode enviar exames para um colega e fazer observações na imagem, circulando locais ou destacando pontos obscuros. E, em vez de escrever suas dúvidas, grava sua própria voz e recebe comentários da mesma forma”, explica Belfer, proprietário da Clínica Unidade Radiológica Paulista, de São Paulo, onde o sistema já funciona.

Batizado de RedeMD, o projeto é exclusivo para profissionais da área de saúde. Até agora, conquistou 2,5 mil assinantes e beneficia o paciente de maneira indireta, aumentando a precisão dos diagnósticos. Um dos recursos para isso é um tipo de junta virtual. “O médico pode solicitar opiniões e tirar dúvidas com colegas que também sejam assinantes do serviço”, explica Belfer. Outra possibilidade é pedir uma segunda opinião – e pagar por isso – a especialistas inscritos numa lista com essa finalidade. A patologista Filomena Carvalho, de São Paulo, está entre os que aderiram à RedeMD. Ela analisa células do corpo para saber, por exemplo, qual é o risco oferecido por um nódulo. A nova tecnologia permite avaliar, junto com outro médico, imagens copiadas do microscópio e transmitidas pela internet. “Antes, essas conversas eram pelo telefone. Agora, ganhamos qualidade porque é possível discutir olhando para as mesmas imagens, com anotações e dúvidas”, assegura Filomena. O clínico geral Daniel Segulen, de São Paulo, tem a mesma opinião. “Receber o resultado de uma biópsia com observações em multimídia é um material mais rico”, afirma. Apesar de a RedeMD ser restrita a especialistas em saúde, há situações que extrapolam a barreira. Segulen, por exemplo, driblou o limite corporativo e usou os recursos de informática para tirar as dúvidas de um cliente sobre glaucoma. “Preparei uma mensagem com fotos e um texto gravado para ajudá-lo. Ele agradeceu por e-mail, dizendo que finalmente entendeu o problema.”