O empresário paranaense Mário Celso Petraglia comemora, na terça-feira 11, seus 70 anos de idade diante de um bolo gigante de concreto e aço, de 122,5 mil metros quadrados. Trata-se do estádio Joaquim Américo Guimarães, conhecido como Arena da Baixada, com capacidade para mais de 43 mil lugares, cujas obras se encontram em fase de acabamento. Serão disputadas ali quatro partidas da Copa do Mundo, mas isso é o que menos importa para ele. O que vale é que o estádio do Clube Atlético Paranaense, o seu estádio, estará concluído este ano, ainda que, numa hipótese das mais remotas, a Fifa o desclassifique oficialmente no dia 18 deste mês, data-limite para confirmar Curitiba como uma das 12 cidades-sedes do torneio. O estádio foi orçado inicialmente em R$ 184 milhões. Vai custar perto de R$ 330 milhões. “Com Petraglia e tudo, será o mais barato, em escala, entre todas as arenas da Copa”, diz um executivo do governo paranaense.

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POLÍTICA
Mário Celso Petraglia no estádio (abaixo, foto da obra) que é sua atual obsessão

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No dia 21 de janeiro, uma inspeção da Fifa, com o secretário-geral Jérôme Valcke à frente, visitou a Arena da Baixada e viu uma obra sem chance de ser finalizada até o dia 18 deste mês, com um contingente reduzido de operários trabalhando. Petraglia, que preside o Atlético e a CAP S/A, empresa que cuida da Arena, culpou o governo do Estado e a prefeitura por quebra do acordo tripartite que garantia ao Atlético o repasse de recursos, a título de empréstimo, com origem no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A obra estava atrasada, afirmou, por culpa do poder público. A demorada resposta veio na quarta-feira 5, num encontro de trabalho sobre a Copa, em Curitiba, com a participação do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Irritado com o estica-e-puxa do cartola, uma constante em suas relações com governos, amigos e inimigos, o governador Beto Richa devolveu, ao ser provocado pelos jornalistas: “Vocês conhecem o governo, a prefeitura e o dirigente do Atlético. Sabem quem fala a verdade.”

“Petraglia colocou a faca no pescoço do governador, que a rigor não teria responsabilidade sobre as obras da Copa, e no do prefeito, parceiro direto na viabilização do projeto”, diz um auxiliar próximo e conselheiro de Beto Richa. “A obra não atrasou por falta de recursos públicos, atrasou por vários problemas, entre os quais o estilo Petraglia de administrar. Ele quer ser arquiteto, engenheiro, contador, tudo nessa obra. E é ele, sim, o responsável pelo atraso.” Para o cartola, seria “molecagem chegar onde chegamos e não ter o apoio dos compromissos escritos e formalizados. Eu não vou pagar essa conta sozinho. Cometemos erros, vamos assumir cada um sua parte, mas cada um na sua proporção.”

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Acima, o cartola com o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, na semana passada,
durante o lançamento de um livro de Rebelo em um bar de Curitiba

A CAP S/A, sociedade de propósito específico criada para construir e gerenciar a Arena da Baixada, retirando o empreendimento da órbita do clube, firmou no fim do ano um contrato com a Fomento Paraná, autarquia do governo estadual que viabiliza empréstimos do BNDES. Conforme o cronograma de liberação dos recursos, a CAP S/A recebeu em dezembro R$ 26 milhões. Em janeiro, depois do estrilo de Petraglia, foram mais R$ 39 milhões, previstos em contrato. Na queda de braço, governo do Estado, prefeitura e Comitê Organizador Local (COL) criaram uma comissão que tratará de fiscalizar as obras e divulgará relatórios diários sobre seu andamento. “Trata-se de uma intervenção branca”, diz outro assessor do governador. Ao mesmo tempo, a Fifa mandou a Curitiba seu consultor de estádios, Charles Botta, responsável por erguer ou baixar o polegar para a Arena. Botta inspecionou a obra na quinta-feira 6 e a encontrou 70% concluída, com o gramado plantado e mais de 15 mil das 43 mil cadeiras instaladas.

Um conselheiro atleticano contou na quinta-feira 6 que o atraso da obra foi proposital, a fim de acelerar a liberação do dinheiro. “Petraglia é maquiavélico. Ele encomendou o gramado em Porto Alegre e o deixou lá até a inspeção do estádio, em janeiro. No dia que a Fifa chegou, havia um desfalque enorme de operários e nada de gramado. Depois de conseguir o que queria, vieram caminhões com baús refrigerados trazendo o gramado, que foi todo plantado em quatro dias. Por que não encomendou a grama por aqui mesmo? E os operários, que apareceram mais tarde?” Segundo o secretário do governo municipal de Curitiba, Ricardo MacDonald Ghisi, o dirigente está sempre no limite, é um jogador muito impetuoso, que não recua. “Pode-se condenar seu estilo agressivo, mas, do ponto de vista do Atlético, é um santo protetor.”

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Fotos: VONALDO ALEXANDRE/GAZETA DO POVO; Brunno Covello/Agência de Notícias Gazeta do Povo