Nas redes sociais e nos círculos de aficionados por cinema, todos parecem ter na ponta da língua uma opinião sobre a polêmica do momento: o suposto caso de pedofilia envolvendo o cineasta americano Woody Allen e sua filha Dylan Farrow, hoje com 28 anos. Como quase sempre é o caso, porém, não existem respostas fáceis no drama que desintegrou a família de um dos mais importantes nomes do cinema mundial com a atriz Mia Farrow, no começo dos anos 1990. Dylan, adotada em 1985 por Allen e Mia, acusou o diretor de tê-la molestado quando ela tinha apenas 7 anos, numa coluna publicada no jornal “The New York Times” no sábado 1º. A suspeita já tem mais de duas décadas, mas voltou à tona com a homenagem prestada ao cineasta no Globo de Ouro em janeiro e ganhou força com a recente indicação de “Blue Jasmine”, seu filme mais recente, ao Oscar.

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PASSADO
O diretor americano Woody Allen, suspeito de abusar
da filha adotiva em 1992. Ele nega as acusações

A pesada acusação ronda o cineasta desde 1992, quando uma atormentada Mia Farrow descobriu, na casa de Allen, fotos da filha adotiva dela, Soon-Yi Previn, nua. A sul-coreana, que tinha cerca de 20 anos quando as imagens vieram à tona (sua idade exata é incerta), havia sido adotada por Mia e pelo músico alemão André Previn ainda criança – antes do início do namoro da atriz com o diretor. A descoberta destroçou a relação d o casal de astros e, em meio à tumultuada separação, Mia foi a público com uma bomba: a de que Allen havia molestado a filha adotiva do casal – Dylan –, de 7 anos. Na época, ela disse que a própria garota havia lhe contado sobre o abuso, e uma investigação policial foi aberta para apurar o caso. As circunstâncias da acusação levaram muita gente a desconfiar que a atriz havia inventado a história e manipulado a criança para se vingar do cineasta. Confirmando essa tese, uma junta médica chegou à conclusão, pouco depois, de que Dylan não havia sido molestada – suas declarações contraditórias ao recontar o episódio indicavam que ela estava emocionalmente perturbada e que, provavelmente, sua narrativa havia sido influenciada pela mãe. Apesar disso, um juiz considerou o relatório inconclusivo e deu a guarda à atriz. Criminalmente, a investigação foi encerrada sem o indiciamento de Allen.

“Woody Allen nunca foi denunciado porque as autoridades
não acharam provas que sustentassem as acusações”

Robert Weide, diretor de documentário sobre o cineasta

O caso foi mais ou menos esquecido pela opinião pública desde então. Nesse meio tempo, em 1997, o cineasta se casou com Soon-Yi – os dois estão juntos até hoje. Até que, em outubro passado, Mia Farrow voltou à cena para revelar um novo e igualmente indigesto escândalo, o de que Ronan Farrow, 26 anos, que se acreditava ser filho biológico da atriz com Allen, seria fruto de uma relação dela com o cantor Frank Sinatra, seu ex-marido. Meses depois, durante a cerimônia de entrega do Globo de Ouro, onde o diretor foi homenageado, Mia publicou na internet mensagens acusando o cerimonial de desprezar a acusação de pedofilia feita por Dylan 20 anos antes e repetidas em outubro para a imprensa. Ao seu lado estava Ronan, que também alfinetou Allen pela rede.

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Depois das acusações, um turbilhão de opiniões defendendo e execrando Woody Allen tomou conta da internet. Entre os que apoiam o cineasta está Moses Farrow, outro filho adotado pelo casal, que contesta a versão da irmã e acusa a mãe de jogar a família contra o pai. Defensores dizem ainda que nada foi provado contra ele e apontam o dedo para Mia Farrow, que teve um irmão condenado por pedofilia e até agora se silenciou sobre o assunto. “Woody nunca foi denunciado por um crime porque as autoridades não acharam provas que sustentassem as acusações de Mia e Dylan”, escreveu Robert Weide, diretor de documentário sobre Allen, em janeiro. Quem acredita que o diretor seja um pedófilo questiona detalhes da investigação (a equipe médica destruiu as próprias anotações antes da entrega do relatório final, por exemplo).

O caso de Allen ainda está envolto em mistério, mas é possível que prejudique sua obra e sua credibilidade como cineasta, como querem Mia, Dylan e Ronan Farrow. “Ninguém sabe realmente se as acusações têm ou não razão de ser, mas isso pode acabar com a carreira de um diretor”, diz a historiadora Mary Del Priore. Por outro lado, muitas grandes obras precisariam ser jogadas no lixo se não se separasse a vida pessoal de um artista de seus feitos. “A sociedade muitas vezes se alimenta da sexualidade dos outros, não só da sua própria. Também está mais interessada na vida íntima de uma pessoa do que nas suas realizações profissionais.” O assunto ainda promete render.

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Fotos: Newscom; Henry McGee/Globe Photos/ZUMAPRESS.com; Marco Sagliocco/Sipa USA Newscom; Globe Photos/ZUMAPRESS.com


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