Quando tentou denunciar o Mensalão Mineiro, durante a CPI dos Correios, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) foi voz quase isolada. Hoje, ao examinar o relatório final da Polícia Federal sobre o esquema, Pimenta conclui que a história lhe deu razão. Ele está especialmente impressionado com os documentos sobre a participação do ministro Walfrido dos Mares Guia no esquema mineiro. Como petista, é o primeiro parlamentar da base governista a dizer, ainda que de forma cordial, que chegou a hora do ministro das Relações Institucionais.

ISTOÉ – O Congresso não está muito parado diante do Mensalão Mineiro?
Pimenta –
Está. Existem provas incontestáveis de que R$ 100 milhões foram desviados dos cofres públicos para a campanha do PSDB. É um escândalo muito maior do que os outros que nós, do PT, estávamos investigando.

Como o sr. avalia o relatório final da Polícia Federal?
Pimenta –
Comprova aquilo que eu sustentava: que o DNA do valerioduto era tucano. E que esse esquema, que eu prefiro chamar de tucanoduto, foi transferido para dentro do governo federal utilizando os mesmos setores, os mesmos bancos, as mesmas agências de publicidade.

E qual a maior surpresa do relatório?
Pimenta –
A participação do ministro Walfrido dos Mares Guia no esquema também foi bem maior do que imaginávamos. Nem tudo está claro sobre seu papel como protagonista do mensalão. Mas tem manuscritos que mostram a sua participação no esquema do caixa 2, tem depoimentos contundentes, há muitas provas contra ele. Tudo isso compõe um mosaico muito forte. Nessa altura dos acontecimentos, a tarefa difícil é a do Walfrido provar que não estaria envolvido.

Não cabe aos acusadores o ônus da prova?
Pimenta –
Sim, mas, se o ministro não tiver uma boa explicação, dificilmente escapará de ser denunciado.

Mas o presidente Lula já manifestou que pretende mantê-lo no governo, mesmo sendo denunciado.
Pimenta –
Entendo que deve ser adotado o mesmo procedimento usado para os demais integrantes do governo, que numa situação absolutamente idêntica foram também denunciados pela prática de supostas atividades ilegais. Não vejo nenhuma razão para dois pesos e duas medidas.

O sr. está pedindo a cabeça do ministro?
Pimenta –
O próprio ministro tem dito que, na medida em que houver uma denúncia ou a comprovação de seu envolvimento, ele será o primeiro a ter essa compreensão.

Já não parece mais ser essa a intenção dele.
Pimenta –
Ele deveria pensar mais nos interesses do País. Por conta da sua função, Walfrido está insustentável. Ele pode atrapalhar muito o governo em votações como a da CPMF. A denúncia do Ministério Público pode criar uma situação na qual ele não terá condição de permanecer no cargo.

E se o Ministério Público não o denunciar?
Pimenta –
Se o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal estabelecerem com relação a este episódio um tratamento diferente do que foi dado para o caso do mensalão do PT, nós estaremos diante de um caso de proporções tão absurdas que a sociedade brasileira jamais vai conseguir entender.

Por que a CPI dos Correios não quis investigar o esquema mineiro?
Pimenta –
Preferiram remeter o assunto para a PF. Acabou sendo a melhor opção.