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DUOPÓLIO
Agora, além das líderes, só a pequena OcenAir pode oferecer voos em Congonhas

 

Encravado no coração de São Paulo, a apenas oito quilômetros do marco zero da cidade, o Aeroporto de Congonhas é um verdadeiro e inesgotável pote de ouro para as companhias aéreas brasileiras. Por ano, mais de 13 milhões de passageiros – a maior parte deles viajando a negócios – cruzam o tradicional salão de piso quadriculado, o que lhe confere o status de segundo aeroporto mais movimentado do Brasil, perdendo apenas para o de Guarulhos. Das dez rotas mais lucrativas do País, seis estão no aeroporto construído na então distante Vila Congonhas, nos idos de 1936. Foi por números como esses que a TAM, dona de mais de 45% do mercado nacional, aceitou desembolsar R$ 13 milhões em dinheiro por uma quase falida companhia aérea regional, a Pantanal, que tem apenas três aeronaves de médio porte, meia dúzia de destinos para o interior de São Paulo, Minas Gerais e Paraná e responde por apenas 0,16% dos passageiros transportados no País. Além de uma dívida de mais de R$ 70 milhões, a TAM também herdará 196 vagas de pousos e decolagens semanais no superlotado aeroporto, o que lhe garantirá superioridade em Congonhas e, junto com a Gol, consolidará de vez o duopólio no aeroporto. Juntas, as duas companhias serão donas de 96% das vagas de pousos e decolagens por lá.

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O que significa ainda menos concorrência e, por certo, prejuízo ao consumidor, que já tinha poucas opções, Apesar de afirmar que pretende ter uma nova unidade de negócios voltada para a aviação regional como resultado da aquisição da Pantanal, poucos acreditam que a verdadeira intenção da TAM com o negócio fechado na semana passada seja, de fato, apostar suas fichas em destinos pouco rentáveis, como Bauru (SP), Juiz de Fora (MG), Maringá (PR) ou a pujante Araçatuba (SP). “Os slots (as autorizações de pouso e decolagem, na linguagem de quem trabalha no ramo) são a única coisa que interessa na Pantanal. Sem eles ninguém pagaria milhões de reais por uma empresa que não tem conseguido nem ao menos operar os voos a que tem direito”, afirma um consultor em aviação civil. A tendência é de que a TAM utilize boa parte desses espaços para operar voos mais rentáveis e com maior demanda, já que não há espaço para ampliação do número de pousos e decolagens em Congonhas. Depois do acidente com o voo 3054 da TAM em julho de 2007, quando 199 pessoas morreram após o avião não conseguir parar no aeroporto, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) reduziu as operações em Congonhas. Desde então o aeroporto só pode ser utilizado para voos diretos e há um limite de 30 voos por hora. Com isso, as companhias se viram obrigadas a transferir parte de suas operações para o distante aeroporto de Guarulhos. No Brasil, cerca de 85% do faturamento das companhias aéreas vem dos chamados turistas de negócios, pessoas que estão viajando a trabalho e com as passagens pagas por suas companhias, em geral com tarifas mais elevadas do que as vendidas a turistas comuns.

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Por sua localização, Congonhas é estratégico nesse segmento. “Os slots da Pantanal têm um valor quase incalculável, interessam a todo mundo”, diz André Castelini, analista do setor da consultoria Bain & Company. Além dos ganhos financeiros, a compra da Pantanal pela TAM atende a um outro objetivo, este mais estratégico. Ao garantir para si os espaços da empresa, a companhia fundada por Rolim Amaro fecha ainda mais o cerco contra a Azul, companhia fundada por David Neeleman, criador da americana Jet Blue, e que já conquistou 4,5% do mercado brasileiro com um ano de operação. Sem espaço disponível para operar em Congonhas, a Azul está utilizando o Aeroporto de Viracopos, em Campinhas, a 100 quilômetros de São Paulo, como sua base de operação em São Paulo. “A verdade é uma só: são todos unidos contra a Azul”, diz um diretor do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas.

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“O espaço que a Pantanal tem em Congonhas é muito valioso, todos querem”
André Castelini, consultor

Por conta das dificuldades enfrentadas pela Pantanal em cumprir seus voos, a Anac havia marcado para fevereiro o leilão de 61 das 196 autorizações de pousos e decolagens da Pantanal. Todas as empresas poderiam concorrer A Pantanal entrou na Justiça para impedir o leilão e o negócio com a TAM estaria condicionado à não redistribuição dos espaços. Até agora nada foi decidido e caberá à própria Anac autorizar ou não o negócio. A tendência, acreditam analistas do setor, é de que dificilmente a agência dificulte os planos da TAM. Se isso de fato ocorrer, o duopólio existente no setor aéreo brasileiro tende a acentuar-se ainda mais. Com o sistema aeroportuário sufocado, há pouco espaço físico para novos concorrentes ganharem musculatura e enfretarem as líderes. “As passagens nos horários de voo da OceanAir já são mais baratas na TAM e na Gol. Quem vai defender a concorrência?”, questiona o consultor Paulo Sampaio. A esta pergunta cabe apenas à Anac responder.


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